sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sobre o silêncio (meu e dele)

Sempre tive uma relação estranha com o silêncio, sempre gostei da sua calma e do jeito como eu fecho os olhos quando ele acontece. Mas poucas coisas me deixam com tanto medo quanto o silêncio.
Silêncio bom é silêncio que se explica, que venta sozinho, que fala no seu ouvido, que te embala na sua doçura. Sempre achei que as coisas boas eram as silenciosas, ou no máximo as sussuradas.
Aquele silêncio nervoso, calado, sem se auto explicar, me dói. Me incomoda, me acua, me deixa curiosa, mas com aquela curiosidade que não se quer descobrir. O silêncio negado é pior, não falar, não olhar, não respirar. Me mate de uma vez. Dói menos.
O silêncio dele faz em mim o que eu mais odeio. Barulho. E dos piores, de cadeira chutada, de garrafa quebrada, de carro batido, de panela caída, de prato de louça. É como se todos eles acontecessem de uma só vez, e se quebrassem bem dentro de mim, no lugar que mais me dói, e daí todos eles ficam presos na garganta como um bolo de lixo. E me incomodam por horas, talvez dias.
Não gosto de barulhos, de gritos, de batidas, de estardalhaços. Gosto do vento que o silêncio me traz, como se trouxesse um pouco de vida soprada suave em mim. Ele me traz silêncio, mas não gosto do seu próprio para mim.
Quero aquele silêncio doce outra vez.