terça-feira, 4 de novembro de 2014

todo mundo se pergunta um dia o que quer da vida. todo mundo tem planos, todo mundo sonha. eu costumava sonhar também. ficava imaginando castelos erguidos numa contra luz francesa, bicicletas que nunca aprendi a andar cortando o frio em pontes holandesas ou até mesmo casinhas brancas reluzindo ao sol nordestino sob a voz de Caetano embalando minha alegria. 
pensava que todos eles se realizariam num passe de mágica, que a vida fosse mais fácil do que os poucos choques de realidade que era submetida.
pensava que a felicidade ficava mais perto.
e hoje, do alto do medo de sujar o sofá ou da inabilidade de enxergar a delicadeza cercada de tanta ignorância e maldade eu ainda não desisto, não me permito admitir a derrota, a casa suja, os papéis empilhados, o pé preto, a louça caída, os panos de vômito.
do alto do mais complet(x)o vazio ainda procuro. 
talvez eu ainda me ache.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

primeiro, o horror em perder.
estavam todos os meus documentos lá, no teto quente e sujo daquele prédio que nunca gostei.
dentro do ônibus e o coração na boca. os pés cumpriam a função de se cansar, a cabeça no meio do viaduto lotado de uma cidade em silêncio.
apertei os dentes e tentei alcançá-los.
faltavam letras no título de eleitor, a metade da foto no rg, o ano de nascimento no cpf.
acordei assustada, nunca lembro de sonhos, porque esse?
voltei com menos respostas, mãos mais suadas e bruxismo mais apurado.