terça-feira, 23 de novembro de 2010

Depois de Paris.

Me dói muito ver aquela tristeza tão concretada nele, sempre molhado de uma noite desesperadora. Me dói o festival mental de 'poderia ter sido assim se...'. Me dói imensamente o fato de não poder dividir, de não ter o direito de amar, de não ter o direito de pegar o que é meu.
Num dia de sol, as justificativas de vida fazem sentido, num dia cansado de viver, todo mundo tem o direito de não sentir. E eu me dei esse direito por algumas horas, e ele se arrastou por uma eternidade, abafando o pouquinho de felicidade que eu consegui numa infinidade de tempo.
Cheguei no limite, de mim.
Já não respondo aos meus gritos, já não me comovo com as minhas lágrimas, já não me defendo dos meus tapas. As vezes me perco de tudo e não sei onde ficar ou pra onde ir, com quem falar, só tenho os meus olhos perdidos no deserto, aquele meu, as vezes compartilhado.
Ver o amor foi o pior e o melhor dos meus fantasmas, a mão que afaga é a mesma que bate. Um dia eu volto pra buscar o que é meu.
Quando eu voltar de Paris.
Que esteja lá.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os meus versos.

“Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.”

Depois de Pessoa embalar uma tarde triste pra quem viu e com promessas de concretude pra quem vê, descobri que eu saí do círculo.

Aquele círculo dolorido, chorado, arrastado, pra pular dentro de mim e de minhas Clariceanices despenteadas, limpas e grandes. Me bastei.

Assentei meu sorriso na alma, as borboletas no estômago, os centímetros que ganhei, os olhos não mais molhados, e a poesia de volta.

Li muito sobre ciclos e fechamentos de portas, como li sobre aberturas de janelas. Minhas janelas estão se abrindo, minhas asas saindo do armário, meus sorrisos de onde, não sei. Talvez da Isadora que esqueci em alguma janela aberta nos fundos da casa.

Outro dia.

Não achei que teria outros, que chegaria até outros. Cada tijolo teve seu quinhão de dor em mim, e de altura.

Meu muro mais alto, mais merecido e um tanto quanto dolorido.

Enquanto minha dor se esparrama, minha felicidade se faz em versos.

sábado, 13 de novembro de 2010

O primeiro dia.

Eu vi o amor. Escancarado. Querendo comer e ser comido. Querendo gritar, se esparramar, se espreguiçar, derramar, correr em mim e me matar de felicidade.
Eu vi. E ele estava em mim, tão agarrado, tão meu, que ninguém pôde me tirar.
Posso contar pros meus netos o que vi, e dizer pra que eles façam o mesmo, quantas vezes puderem, quiserem, conseguirem. E não vou alertar sobre a dor de depois, ninguém deve o fazer, é uma das piores maldades desse mundo.
E doeu, como nunca nada me doeu antes. Meu jardim murchou, meu céu caiu, meu chão sumiu, não lembrava das minhas músicas preferidas, não lembrava que sentia fome de manhã, esqueci do mar, não fiz brigadeiro a tarde, não olhei pro sol, meu olhar não atingia a copa das árvores, as vezes ele não abria.
Eu morri. Simbolicamente. Mas morri.
E depois de tanto descer e morrer todos os dias, eu sorri.
Olhei pro céu e ele estava cinza, mas mais lindo que nunca, olhei e meus velhos amigos eram os mais novos que eu poderia ter, as mesmas músicas não eram aquelas, eram outras, as pessoas eram todas tristes comparadas a mim enquanto eu fazia o mesmo caminho de sempre, sorrindo como nunca.
No aniversário de um ano da semana em que fui mais feliz na vida, eu fui feliz. Depois de ter sido triste, não ficado triste.
E o que isso fez de mim? Só mais humana. Mais Isadora e menos qualquer outra coisa.

domingo, 7 de novembro de 2010

Os relógios de Dalí.

Minha dor precisa de espaço, de quebrar as paredes, de gritar um pouco mais. O silêncio, o escuro, e o cobertor de hoje, fizeram ela caber no meu quarto. E se agarrar em mim.
Hoje preciso mexer as pernas e os braços de vez em quando pra ver se ainda funcionam, preciso pensar quem fabricou o parafuso da escrivaninha, pra ter certeza que ainda penso em outra coisa a não ser nessa maldita dor.
Não foi difícil dizer 'não'. Foi previsível, esperado, calculado, inconscientemente. Na maioria das vezes não esperei muita coisa, porque não esperava muita coisa de mim. Nas vezes que sobraram, eu me sentia segura, tinha uma mão pra segurar, um telefone pra ligar e dizer boa noite, alguém pra contar as novidades e pra me abraçar quando o mundo tivesse acabando.
E o mundo acabou, dentro de mim. Meus andaimes caíram de uma vez, me senti derretendo como os relógios de Dalí. E ele não me abraçou.
O segundo tapa na cara. Não doeu tanto assim, só cimentou a dor de antes.
Nem tudo mais tem a cara dele, muita coisa não me diz nada, aqueles olhos me dizem a mesma coisa há tempos, sinto falta dos olhares de antes. Qualquer um deles.
Agora tem um medo novo, que eu nunca tive. Medo da vida. Das pessoas que estão por vir, das viagens que ainda não fiz, dos caras que ainda não conheci, dos amigos que vão se afastar, e dos que vão chegar.
Ironia ter medo da própria vida.