quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Eu não estou aqui.

"Não fale", "não pressione", "não force", "não mande essa mensagem", "não envie esse e-mail", "pare de chorar assim!", "pare de sofrer!", "larga de histeria!", "olhe pelo outro lado", "não se manifeste", "não reclame", "não lembre!", "tem certeza que a situação merece esse circo todo?", "pare de gritar!", "ficou louca?".
Fiquei. Enlouquecida. Esqueci de me ouvir ouvindo tanto os outros, esqueci como eu reagiria em uma situação por não ter chão, e aí as pessoas se apossaram dele. Não por falta de ajuda minha, nem por descuido, elas simplesmente montaram a barraca no meu terreno, eu deixei. E os inúmeros palpites, sugestões, se tornaram ações, que não eram minhas. Eu não pensaria daquele jeito, não agiria assim.
Preciso me libertar dessas milhões de vozes que não são minhas, desses planos de vida que não são meus, desses olhares que eu adotei, preciso aposentar os sorrisos amarelos, a Isadora pela metade, os amigos não tão amigos, as coisas que nunca tive vontade fazer. Preciso aposentar uma cabeça doente, um coração ralado, um estômago machucado, um pulmão velho, olhos molhados, mãos nervosas, pernas inquietas, todo o suor e o nó da garganta.
Não gosto de quem eu me tornei.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

(des)agostos

Hoje o dia acordou triste, o buraco de muito tempo ainda estava lá, escuro e grande. E a faísca de desespero me jogou pra fora da cama e me fez pensar em qualquer coisa mais banal. Sempre odiei esse papo de depressivo, mas peguei na mão da tristeza e ela só ficou calada, como eu queria que muita gente também tivesse ficado. Eu deveria ter ficado calada.
Clarice diz que se a gente tem o direito ao grito deve gritar, e eu gritei, por exatos 101 dias. Gritei, chorei e agora me calei.
Não por falta do que dizer, porque eu poderia gritar por mais cem dias, mas por ter sucumbido a qualquer coisa que eu não alcanço e que não vou alcançar, não por falta de tentar ou de querer, mas por não chegar até mim.
Acho que a auto-destruição sempre me encantou de alguma forma, meus ciclos não se fecham antes que eu feche a mim mesma, e me enclausure em um lugar qualquer escuro que me apavore, além de doer latente nos dias de chuva, e achar os dias de sol um porre total. Em qualquer papel velho escrevi que me sentir sozinha e implorar por um carinho e sorrisos sinceros faziam parte do plano anterior, e faziam mesmo, até eu descobrir que os planos se repetem.
Zeca diz que não quer passar agosto esperando setembro, há dias eu espero meus agostos passarem. Talvez se eu me sentar e esperar eles passem, não quero ver o sol agora.