"Não fale", "não pressione", "não force", "não mande essa mensagem", "não envie esse e-mail", "pare de chorar assim!", "pare de sofrer!", "larga de histeria!", "olhe pelo outro lado", "não se manifeste", "não reclame", "não lembre!", "tem certeza que a situação merece esse circo todo?", "pare de gritar!", "ficou louca?".
Fiquei. Enlouquecida. Esqueci de me ouvir ouvindo tanto os outros, esqueci como eu reagiria em uma situação por não ter chão, e aí as pessoas se apossaram dele. Não por falta de ajuda minha, nem por descuido, elas simplesmente montaram a barraca no meu terreno, eu deixei. E os inúmeros palpites, sugestões, se tornaram ações, que não eram minhas. Eu não pensaria daquele jeito, não agiria assim.
Preciso me libertar dessas milhões de vozes que não são minhas, desses planos de vida que não são meus, desses olhares que eu adotei, preciso aposentar os sorrisos amarelos, a Isadora pela metade, os amigos não tão amigos, as coisas que nunca tive vontade fazer. Preciso aposentar uma cabeça doente, um coração ralado, um estômago machucado, um pulmão velho, olhos molhados, mãos nervosas, pernas inquietas, todo o suor e o nó da garganta.
Não gosto de quem eu me tornei.