sábado, 13 de novembro de 2010

O primeiro dia.

Eu vi o amor. Escancarado. Querendo comer e ser comido. Querendo gritar, se esparramar, se espreguiçar, derramar, correr em mim e me matar de felicidade.
Eu vi. E ele estava em mim, tão agarrado, tão meu, que ninguém pôde me tirar.
Posso contar pros meus netos o que vi, e dizer pra que eles façam o mesmo, quantas vezes puderem, quiserem, conseguirem. E não vou alertar sobre a dor de depois, ninguém deve o fazer, é uma das piores maldades desse mundo.
E doeu, como nunca nada me doeu antes. Meu jardim murchou, meu céu caiu, meu chão sumiu, não lembrava das minhas músicas preferidas, não lembrava que sentia fome de manhã, esqueci do mar, não fiz brigadeiro a tarde, não olhei pro sol, meu olhar não atingia a copa das árvores, as vezes ele não abria.
Eu morri. Simbolicamente. Mas morri.
E depois de tanto descer e morrer todos os dias, eu sorri.
Olhei pro céu e ele estava cinza, mas mais lindo que nunca, olhei e meus velhos amigos eram os mais novos que eu poderia ter, as mesmas músicas não eram aquelas, eram outras, as pessoas eram todas tristes comparadas a mim enquanto eu fazia o mesmo caminho de sempre, sorrindo como nunca.
No aniversário de um ano da semana em que fui mais feliz na vida, eu fui feliz. Depois de ter sido triste, não ficado triste.
E o que isso fez de mim? Só mais humana. Mais Isadora e menos qualquer outra coisa.

2 comentários:

  1. "Querendo comer e ser comido...", me reportou a uma passagem da peça Taniko, do Teatro Oficina: "Suspirando, gemendo e amando, comendo e sendo comido neste vale de lágrimas".

    ^^

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