domingo, 7 de novembro de 2010

Os relógios de Dalí.

Minha dor precisa de espaço, de quebrar as paredes, de gritar um pouco mais. O silêncio, o escuro, e o cobertor de hoje, fizeram ela caber no meu quarto. E se agarrar em mim.
Hoje preciso mexer as pernas e os braços de vez em quando pra ver se ainda funcionam, preciso pensar quem fabricou o parafuso da escrivaninha, pra ter certeza que ainda penso em outra coisa a não ser nessa maldita dor.
Não foi difícil dizer 'não'. Foi previsível, esperado, calculado, inconscientemente. Na maioria das vezes não esperei muita coisa, porque não esperava muita coisa de mim. Nas vezes que sobraram, eu me sentia segura, tinha uma mão pra segurar, um telefone pra ligar e dizer boa noite, alguém pra contar as novidades e pra me abraçar quando o mundo tivesse acabando.
E o mundo acabou, dentro de mim. Meus andaimes caíram de uma vez, me senti derretendo como os relógios de Dalí. E ele não me abraçou.
O segundo tapa na cara. Não doeu tanto assim, só cimentou a dor de antes.
Nem tudo mais tem a cara dele, muita coisa não me diz nada, aqueles olhos me dizem a mesma coisa há tempos, sinto falta dos olhares de antes. Qualquer um deles.
Agora tem um medo novo, que eu nunca tive. Medo da vida. Das pessoas que estão por vir, das viagens que ainda não fiz, dos caras que ainda não conheci, dos amigos que vão se afastar, e dos que vão chegar.
Ironia ter medo da própria vida.

3 comentários:

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  2. você é genial!eu não me canso de ler você! Você é capaz de expressar através da escrita aquelas coisas que a gente sente e não consegue explicar direito! eu leio você e tenho a sensação de ler minha amada Clarice. Você é linda, flor!E o medo que descreveu me fez lembrar dos meus medos também, mais especificamente, do medo da mudança, do vai-e-vem da vida...o que pra mim é uma ironia..justo eu que gostava tanto de mudar...
    bjo!

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