Quis todas elas amarradas por um laço por tantos anos, por todos dias, por cada sorriso, pelo amor inteiro. Quis todas elas talvez para que eu pudesse olhá-las e tentar me igualar, pela delicadeza que sempre invejei, pela pequena, mas sublime duração de seus dias. Pelo colorido, pelo abre-fecha de pétalas, pelo alimento, pela sutileza do presente. Vieram. Lindas, porém tarde. A tristeza por terem chegado tão tarde se igualou ao quanto eram bonitas, a dor de olhar se parece com a dor de reler meus antigos rascunhos, o lugar que fica é equivalente àquele que é ocupado no meu coração. Não as querer é pecado, não as sentir é consequência e direito de quem ganha. Ainda assim não me pediu pra ficar. Agora o vento é meu.
meus fantasmas só se afastam pelas palavras, e é por vingança às suas torturas comigo que os torturarei também.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Aquele do presente de aniversário.
A um dia dos 21 a aflição me pegou no caminho do corredor. Não é medo de ficar velha - nenhuma neura pré-aniversário - talvez medo de ficar sozinha. A insegurança sempre foi o sentimento mais perto de mim durante toda a minha vida, ainda tô aprendendo como é esse negócio de dizer não e manter meus sim's. Insegurança talvez por duvidar que eu consiga me sentir realmente amada outra vez, o amor desacostumou minha rotina. Preciso reaprender a viver sozinha, preciso desaprender a esperar amor, reaprender a só sentir. Me convenço todos os dias que a vida é maior do que o pedaço que falta em mim, me obrigo a sentir qualquer brisa de vida que me assopra, reproduzo a voz de Caio milhares de vezes na minha cabeça "deixa, deixa passar..', espero aquele avião como quem espera liberdade. Que os 21 não altere minha capacidade de convencer a mim mesma, é o meu presente de aniversário, de mim pra mim.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Aquele em que eu rezei.
"E eu rezei. Sabe? Tipo, pra Deus." Pensar em Julia Roberts num dos piores momentos da minha vida, não foi cômico por ser tão trágico. E eu também rezei, sabe, pra Deus. Uma relação difícil durante toda a vida, um assunto não muito comentado, uma fé rala, a crença diluída nas rodas de conversa. Achei que Deus poderia entender minha angústia e incapacidade diante daquela dor tão latente. Não sabia como começar, como pedir, como acreditar. Mas pedi com o resto da força que me sobrou, em voz alta, arrastada, envergonhada pela ausência de tantos anos. Pensei tanto naquela meia luz de Formiga, quinta-feira, meu coração costumava ficar em paz. Tentei a paz de novo, ajoelhada, diante de uma janela com grades tão longe do céu, sucumbida pela fragilidade do ser humano, e chorei, como se não pudesse fazer mais nada.
Aquele da perda do resto.
Hoje, sem querer, numa violência impensada e confusa, apaguei meus rascunhos do celular. Em meio a nomes científicos de borboletas, citações de Jabor, Clarice e lapsos de auto-tortura. "Escreva sobre isso" era o que eu conseguia ouvir, era só o que queria fazer. Perdi. Muita coisa. Meu amor,pra sempre. Meu endereço, por 3 dias na semana. Meu nome, pra mim. Minha delicadeza, pro mundo. O que é perder rascunhos de uma vida embaraçada num telefone? Preferi perder um braço naquele momento de tudo vazio, eu, o maldito telefone e tudo que conseguia enxergar, olhei pro prédio em que fui feliz durante tantos meses, pra praça que me tem amor e ódio, pra avenida cinza, pra amiga consolada, pra mim conformada, e conformei. Rascunhos me doem como nunca imaginei, me fazem ver alguém que não conheci, porque era incompleto, frases únicas me assustam, as aspas de Clarice - sempre a minha direita e à minha esquerda - me fazem mais humana. Aprendi que as coisas passam, aceitei que passam, vi que passam, tentei pegar mais uma vez e não pude, não cabiam no meu colo. Só carrego o que posso levar. A mesma lição. O mesmo escorrer de mãos, de vida, mas o sopro renitente de vida ainda me assopra. Finjo que entendo qual o motivo da insistência de vida frágil sussurrada no meu ouvido.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Aquele pequeno.
Em todas as minhas leituras de hoje, achei Caio. Com sua tristeza lá no fundo, quietinha, esperando a mão de felicidade se estender pra olhar sereno pra ela e levantar como pluma do canto que já se despediu sem mágoas. Pensei que me afastar dos meus dias Clarice seria mais dolorido, mas cair em dias cada vez mais Caio me salvam da rotina dos meus pensamentos, me aguento com os comigos de mim. Dias mais serenos, menos doloridos, menos assustadores, com mais inspirações. E expirações.
domingo, 10 de abril de 2011
Aquele que eu precisava escrever.
Fechar os olhos e me sentir tão grande como nunca poderia imaginar. A minha dor se foi, a minha paixão se desfez no caminho que você mesmo percorreu, meus planos de vida colorida não se dissiparam, só não lhe cabem mais, minhas noites não te encaixam, minha coxas não te envolvem, minha respiração não te ofega, meu sono não te acalma, minhas palavras não te dizem, meu abraço não te afaga, minhas mãos não te envolvem, meu grito não te comove. Eu não grito mais, hoje só susssurro o resto daquela dor surrada no fundo do coração. Não te envolvo, numa vida que não existe, que você não vê, que não vemos. Não existe. Somos nós, uma lembrança de amor dilacerante e uma esperança vazia. Vivamos nossas vidas, azuis como devem ser.
terça-feira, 5 de abril de 2011
Aquele sobre os rascunhos, Chico e eu.
Bom, pela primeira vez resolvi ler meus rascunhos. Sempre tive problemas com rascunhos, reflexões e dores velhas me fazem ler alguém de quem eu não gostei, por isso me escrevi. Ignorei meus amigos, minha família, minha analista e minha consciência no meio desses rascunhos angustiados em que as palavras não se completam, as pessoas não existem, é uma iminência de desespero, de tocar fogo nas roupas ou de tomar um porre, como diria Vani. Esqueci do que fazia minha vida bonita, perdi um pedaço de mim pelo caminho e não posso voltar pra buscar, e agora? Posso ter outro pedaço bonito? Nos piores momentos daqueles de olhos de vidro e meias trocadas, no domingo segurando no portão e me perguntando 'porque a faculdade tá fechada hoje?', o que me mantinha respirando era o sopro de reinvenção que por algum motivo não saiu voando de mim. Um copo vazio está cheio de ar, aprendi com Chico. Não quero mais ler meus rascunhos, a 'caixa de sonhos' física está no fundo do armário daquela casa empoeirada que já não é mais minha, o que está lá dentro já foi meu, aprendi a levar só o que eu posso carregar, só posso dar se me transborda. Aprendi comigo.
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