Hoje, sem querer, numa violência impensada e confusa, apaguei meus rascunhos do celular. Em meio a nomes científicos de borboletas, citações de Jabor, Clarice e lapsos de auto-tortura. "Escreva sobre isso" era o que eu conseguia ouvir, era só o que queria fazer. Perdi. Muita coisa. Meu amor,pra sempre. Meu endereço, por 3 dias na semana. Meu nome, pra mim. Minha delicadeza, pro mundo. O que é perder rascunhos de uma vida embaraçada num telefone? Preferi perder um braço naquele momento de tudo vazio, eu, o maldito telefone e tudo que conseguia enxergar, olhei pro prédio em que fui feliz durante tantos meses, pra praça que me tem amor e ódio, pra avenida cinza, pra amiga consolada, pra mim conformada, e conformei. Rascunhos me doem como nunca imaginei, me fazem ver alguém que não conheci, porque era incompleto, frases únicas me assustam, as aspas de Clarice - sempre a minha direita e à minha esquerda - me fazem mais humana. Aprendi que as coisas passam, aceitei que passam, vi que passam, tentei pegar mais uma vez e não pude, não cabiam no meu colo. Só carrego o que posso levar. A mesma lição. O mesmo escorrer de mãos, de vida, mas o sopro renitente de vida ainda me assopra. Finjo que entendo qual o motivo da insistência de vida frágil sussurrada no meu ouvido.
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