Talvez me precipito um pouco escrevendo sobre esse encontro que ainda não aconteceu, mas sinto pela primeira vez que somos iguais, nem vítimas nem vilões, nem choro que peça consolo, nem grito que peça ouvido. Iguais, humanos, como deveríamos ter sido sempre, como fomos um dia. A mala no canto da sala pressagia uma nova pessoa, as unhas negras de hoje pressagiam a despedida dessa velha pessoa que nunca deixou de ser doce, só esqueceu como se faz. Me perdi várias vezes nas mãos suadas e na voz trêmula tentando te dizer 'sim', talvez você tenha se perdido nas mesmas coisas e desejado tanto quanto eu essas três letras. Desaprendi a ir com você, você desaprendeu a me levar, na noite em que deveria ter tons de despedida eu só desejo que reaprendamos a nos levar mutuamente numa doçura extrema, como deveria ter sido sempre, como fomos um dia.
meus fantasmas só se afastam pelas palavras, e é por vingança às suas torturas comigo que os torturarei também.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
sobre balões vazios.
hoje eu sou intraduzível como qualquer coisa que não sei explicar por desconhecimento completo. meu coração já não conversa com o resto do corpo, já entro num processo de esvaziamento completo por indução, sem pedir licença nem agradecer. Cazuza disse que seus dias são de par em par, os meus não chegam aos pares, as vezes só alcançam as horas. me fartei de escrever sobre escritas reduzidas, duras e coisas repetidas. talvez faça um novo blog, jogue metade desse coração fora, mantenha um ou dois brilhos falsos nos olhos, pinte o cabelo, aprenda a arrumar um armário, a ter algumas opiniões, talvez tenha algumas ideologias, talvez eu tente agradar menos os outros, talvez eu aprenda a usar menos talvez'es e comece a pensar em mim. consigo perceber que a vida não dura muito e que só tenho duas saídas pra ela, ou vivo heroicamente, não deixando que se esqueçam de mim, ou deixo a vida se esquecer de mim. escolho aos 21 que a vida se esqueça de mim, não tenho mais saco pra me adaptar a ela, e nem ela pra se adaptar a mim. me esvazio, lenta e dolorida, outra chance de construir o que nunca consegui entender.
sábado, 18 de junho de 2011
aos vinte.
Aos 20 aprendi que amar não tem remédio, que a ressaca nunca acaba, que amigos são vida, que falta de amor é angústia, que te amar agora é de um gelado completamente sustentável e leve, que amar você, de agora, é quente e muito mais longe do que penso, que mudar é inevitável, que apesar de tudo alguma coisa me empurra pra vida. Aos 20 o amor me embala numa rede ansiosa e um tanto maléfica me ensinando a ter paciência, em embalos rápidos que me derrubam de tempos em tempos.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
altas.
Minha vida virou um drama barato, história de meia luz e café frio. Livro rasgado, coração seco, solidão latente e por escolha induzida, pés gelados, novela mexicana, rodopios diários num círculo de paredes desesperantemente iguais. Já transcendi o cansaço e a misantropia, já nem sei mais o que sentir ou em que acreditar, de um dia para o outro meus valores se diluíram como açúcar na água, minhas desconstruções diárias são como socos no estômago, meus cansaços de final do dia me consome as lágrimas. Me situo sempre, pra não esquecer o propósito da minha presença - apesar de as vezes inventá-lo pra não sair correndo. Não sei se cansei, não sei se devo chorar, enfiar o pé na vida, cultivar alguma coisa ou matar o resto. Não quero mais nada, parei de brincar, pedi altas e espero a coragem pra pelo menos correr até chegar na puta que pariu sem olhar pra trás.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
o limite do suportável.
O desespero da solidão chegou ao limite do suportável. Cansei de expectativas furadas, dias vazios, amores mal curados, vidas mal vividas. Cansei de mim. Mergulhei numa solidão forçada, maldita, doída no fundo, daquelas que esperam qualquer coisa brilhar no fim do dia. Não brilha, não acontece. Acontece pelo contrário em mim, uma falta de esperança tão ardente que só acredito em um futuro grandioso que afinal, pode ser só mais uma das esperanças vagas. Cansei delas e de mim, de esperar a salvação dos meus dias e do meu desespero tão agudo. Rio por não saber mais reclamar, por não ter o que reclamar. Sei que não existe a salvação que espero, mas é só o que posso esperar num momento em que meu corpo esvazia-se por si só, sem meu consentimento num processo de limpeza profunda, até das alegrias. Drummond se faz sábio todos os dias no meu cérebro, de volta pra casa se perguntando o que fazer de uma vida que não se tem, se inventa. Me invento por sobrevivência, faço promessas ao inconsciente, apostas aos olhos, a boca já não considero, ao sexo nem me atrevo. Minha última chance é ir. Pra voltar. Talvez mais limpa, talvez mais suave, um tanto mais diferente, pra que eu possa viver mais alguns anos de desespero disfarçado de vida vivível [que me desculpe Guimarães Rosa]. Não desisto por algum motivo que não sei explicar, mas que me me empurra pra frente num fôlego curto de velho cansado.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
lucidez enlouquece.
Me pergunto se sinto ainda algum tipo de dor e me respondo que não. Me afirmo cansaços extremos, sonos de menos, rotina de mais, a que tanto odeio e a que de tanto dependo. Quartas se tornaram sábado, meio dia já não era o meio do dia, perdi o medo do meu escuro, perdi o medo de mortes diárias. Minhas atividades se resumem a enfeitar o hábito, esperar a mágica, enfrentar todas as resurreições e beber qualquer tipo de beleza em meio ao caos que tornei minha vida. Mato o tempo em horas iguais e tento acreditar que existe o deus das horas certas morando na minha orelha esquerda e sapateando a cada hora igual.
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