sábado, 14 de janeiro de 2012

vejo meu quarto português. ele nu, sem os deuses que rezavam toda noite na minha cabeça. 
vejo o que levo de volta.
resta mais do que deveria restar. 
dentro de mim e dele.
volto pesada de qualquer coisa estranha que só o sol me dirá o que é.
permaneço menos dolorida, mais embriagada do lugar novo que descobri no último dia.
aprendi a amar pequeno, me cabia aqui como nada, me incomodava daqui com frequências inimagináveis.
não fecho as malas, ponho os pés nelas, as deixo no corredor cumprindo a sina de não fechar janelas.
aprendo a aprender a fechar ciclos, varrer quartos, fechar portas e carregar menos.
e assim, no último dia da linha tênue do que posso chamar de meu, o amo em cada segundo, em cada metro singelo do que abrigou minha cabeça e meus passares daquela morte.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

no limbo das mãos minhas.

de mãos estranhas, em que deveriam escrever num papel branco, sistematicamente escrevem num teclado eufórico de angústia ou nojo.
as amo, por terem sido de pianista na infância, as amo por segurarem tudo que quero.
as odeio por serem tão grandes que escorrem o que eu quero mais.
são lindas, são nervosas, suadas, amarelas, grandes, grandes, grandes.
preenchem.
o que não tenho nelas, são et's de mim.
são nuas, e assim permanecem na aflição da feminilidade dos extremos de mim.
são extremos e talvez por isso, fora?
são meus extremos, gelados, eufóricos.
são o que eu preciso e repudio.
são cansadas, são esquecidas de carinho.
são mãos não tão menos doloridas que as suas, desse lado.

minha varanda.

pra ela, uma casa com varanda.
pra ele, uma rede na varanda.
pra ela, um chapéu coco na cadeira da varanda.
pra ele, o rock n'roll na varanda.
o sorriso que ilumina a varanda, dela.
o microfone surdo pra ela, o violão baixo também.
a piada pra ele.
nós por todos, nessa varanda minha que arde o coração de felicidade.