terça-feira, 9 de março de 2010

Eles não existem.

Não perdôo minha mãe por ter me comprado de aniversário o maldito filme da Cinderela com o imbecil do príncipe encantado. Deveria haver uma punição para mães que fazem isso com suas filhas, é uma ilusão que só tende a crescer ao longo da vida. E ferrar com a vida das pobres meninas inocentes.

Depois de pensar muito, concluí que todas as aflições amorosas femininas são por causa dos filmes malditos com os príncipes imbecis.

Quando a menina tem seu primeiro namorado, têm absoluta certeza que é o homem da sua vida, que ele vai te trazer flores todos os dias, dizer que te ama, pegar na sua mão na frente de suas amigas e jurar que o amor de vocês é eterno. É só o que ela quer.

Mas ele, o seu namoradinho, só vai se esforçar para ser o mais imbecil que ele possa, não vai pegar na sua mão na frente das suas amigas, não vai dizer que te ama a não ser que diga tão baixo que você custe a ouvir e não vai te dar flores, ele só quer contar pros amigos coisas que só nós, meninas, contamos para aquele diário de cadeado de plástico.

E quando a mãe diz que não sabemos nada sobre a vida, que esse namoro não tem cabimento, que o namorado é um idiota, nós choramos, desejamos a morte da mãe e temos certeza que sabemos o que é a vida.

Quando terminamos com o pequeno imbecil, pensamos como tivemos a audácia de namorar com "aquilo", e que chicotadas doeriam menos do que sua consciência naquele momento. Faz parte.


Mas continuamos acreditando no príncipe encantado. Maldito.


No segundo namorado, quando afinal, sabemos beeemmm mais sobre a vida, os desejos ganham contornos mais sofisticados. Só precisamos de um único elogio pra começar a fantasiar sobre a vida eternamente feliz. Bobinhas.

Dói quando descobrimos que não vai ser perfeito a vida toda. E dói muito. Porque toda mulher sonha em ter o príncipe encantado, que te carregue no colo, que te mande torpedos apaixonados, que te deseje todos os minutos do dia, que não pense em outra mulher que não seja você. Queremos paixões arrebatadoras, queremos amor em todas as delícias que essa palavra possa ter, queremos que todos os dias sejam diferentemente apaixonados. Achamos pouco quando as mães dizem "Só precisamos de um companheiro". Companheiro nada! Queremos é morrer de amor todos os dias. Bobinhas (outra vez).


Quem deseja pouco, vive pouco. Descobrir que os seus desejos não vão se tornar realidade não mata, só dói. Daí chore, até desidratar, na maioria das vezes resolve.


Não existem dias perfeitos, mas não nego que dias felizes existam. Não existe vida perfeita, mas existem momentos extremamente felizes. Se não nos segurarmos meninas, caímos no poço da desilusão e ficaremos como Camélias, Joanas e Marias, dançando desiludidas.


E se nada resolver, a gente processa a Disney.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Ele.

Tudo fazia parte: seus cigarros, seus óculos escuros e a bateria imaginária tocada nas escadas às 7 da manhã.
E o mistério que me deixava intrigada.
Certa vez perguntei de seus óculos, respondeu com uma piadinha.
Noutra ele perguntou sobre Clarice, respondi com coração apertado.

E sumiu.

Depois, seu bigode engraçado me fez vê-lo de novo. Ficou estranhamente feliz, nunca tinha o visto assim antes.

Eu existindo.
E engolindo felicidade, guardei a informação.

Fui feliz naquele sábado.
A aposta me garantiu um beijo na frente da família.
A promessa de uma banda me deu promessas de felicidade azul.
Eu era dele antes que eu pudesse perceber.
Meus olhos eram dele.
Minha poesia era dele.
As circunstâncias não me levaram a ser dele, eu escolhi. Eu quis, como se precisasse respirar seu azul.
Ele me amava, me respeitava com aqueles olhos lindos.
Chorar de felicidade é maravilhoso.
E ver que é tudo verdade dá medo.
Mas tive poucos medos, quase nenhuma dúvida, milhares de sorrisos.

"Olá namorada".

Não precisaríamos de definições, era muito grande para caber dentro de uma.
É muito grande para caber dentro da gente.
É delicado.
É nosso e de mais ninguém.
Pernambuco, cortinas brancas, Blues, fotografias, ovos mexidos, suco de laranja, uma moto, o fusquinha, Francisco e nada mais.
Ninguém me tira isso.
Ele me faz mulher.

E a mais feliz desse mundo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Eu não existia

Não sei se todos sabem que existem.

Eu não existia.

Nunca existi. Nunca soube que podia falar não e ponto final, ou simplesmente fazer o que queria. Não sabia que ocupava um lugar em qualquer outro lugar, sentia que um saco abrigava minha respiração, e só.

Tinha sonhos emprestados, ideias compradas, sorrisos amarelos, medo da vida. Me agarrei a alguém porque não sabia que existia. Primitivo assim. Tomei conta da minha existência quando não aceitei viver de migalhas, de meio-amor com meio-sorriso.

Ninguém merece quases. Não sou meia-pessoa.

Queria como ninguém uma vida, mas não sabia por onde começar, nunca tinha tido uma. Não me lembro de mim, só dos outros. Só lembro de uma tristeza angustiada que sempre tive desde menina, de uma dor constante que as vezes fincava e dóia fino.

Tive vergonha de confessar que não sabia que existia, é algo que se tem desde sempre. Quando tive a coragem de admitir não nasci de novo, nem mudei minhas roupas ou comprei alguma coisa, só ri deliciosamente quando acordei.

Deliciosamente.

Essa é a palavra.

Nunca tinha rido com delícia. Foi a melhor sensação inteira que tive.

Acho brega dizer que me encontrei, a gente não encontra o que nunca teve. Eu simplesmente me dei conta que existia.

Antes do começo.

Meus fantasmas são mais cruéis do que o de outras pessoas, é fato que eles se divertem com o meu desespero. Me torturam com pinça, cera fria e cosquinha na costela, pelo simples prazer de me atazanar. Mas cansei de cosquinhas [que são bemmmm mais cruéis que pinça e cera fria], e agora é a minha vez.
Sei que quando os torturar, me torturarei junto. É como quando se admite vícios para então se tratar, minha dor virou um vício que não quero mais. Enquanto o tratamento de alguns é a rehab, o meu são as palavras.
Palavras que as vezes podem ser duras para alguns, mas leves para mim. Palavras que as vezes me machucam, mas precisam ser ditas, mastigadas, e enfim cuspidas. Palavras alegres demais, que não caberão dentro de mim, e que de tão leves voarão por aqui.
Minhas dores e meus amores precisam ser públicos, sempre precisaram, doem demais quando sozinhos em mim.

Tudo tem seu começo, eu tive o meu. Tardiamente, mas tive.
E é por ele que vou começar.