terça-feira, 2 de março de 2010

Eu não existia

Não sei se todos sabem que existem.

Eu não existia.

Nunca existi. Nunca soube que podia falar não e ponto final, ou simplesmente fazer o que queria. Não sabia que ocupava um lugar em qualquer outro lugar, sentia que um saco abrigava minha respiração, e só.

Tinha sonhos emprestados, ideias compradas, sorrisos amarelos, medo da vida. Me agarrei a alguém porque não sabia que existia. Primitivo assim. Tomei conta da minha existência quando não aceitei viver de migalhas, de meio-amor com meio-sorriso.

Ninguém merece quases. Não sou meia-pessoa.

Queria como ninguém uma vida, mas não sabia por onde começar, nunca tinha tido uma. Não me lembro de mim, só dos outros. Só lembro de uma tristeza angustiada que sempre tive desde menina, de uma dor constante que as vezes fincava e dóia fino.

Tive vergonha de confessar que não sabia que existia, é algo que se tem desde sempre. Quando tive a coragem de admitir não nasci de novo, nem mudei minhas roupas ou comprei alguma coisa, só ri deliciosamente quando acordei.

Deliciosamente.

Essa é a palavra.

Nunca tinha rido com delícia. Foi a melhor sensação inteira que tive.

Acho brega dizer que me encontrei, a gente não encontra o que nunca teve. Eu simplesmente me dei conta que existia.

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