quarta-feira, 13 de junho de 2012

tirou a roupa, deixou a mala, cortou o cabelo, virou as costas, blasfemou deus, ignorou a psicologia, a auto ajuda, a ajuda alheia, e o caralho a quatro.
e ele?
vestiu a roupa nela, despachou a mala pra bem longe, achou uma de cabelo grande, deu-lhe as costas, acredita em coisas vagas, se calou de morte.

e naquela tristeza nada contida, nada consentida, muito menos calada ela sabe como se torturar e tentar inventar que ele ainda pensa nela, só pra ver se arreda o caminhão que lhe aperta o peito.
quando a angústia não coça e o desespero não arde, ela se dá conta que a solução é molhar os pés no mar e entregar a cabeça pro céu.

quarta-feira, 16 de maio de 2012


ando vendo a vida de fora e nada nela me comove, tão mesquinha, muitos pra quês, sem muitos porquês. cinicamente olhos os movimentos circulares circenses a que meu personagem de olhos fracos é obrigado a executar. 
um palhaço de circo falido e malabares desbotados. uma bailarina rasgada, olhos borrados e coque desfeito chora
descontrolada
               mente
                          sorrindo.
       

domingo, 6 de maio de 2012

numa onda de coisas findas tento inventar novidades, dessas velhas, dessas pequenas pra ver se passa o tempo ou mata o mosquito que ronda essa cesta de mangas.
nessa falta de comoção generalizada, te olho com o mais profundo nada que já nem me pertence mais.
desacredito e desapaixono, obrigação de não sofrer.
me orgulho de sustentar uma palavra firme, condição de sobrevivência de um coração mole.

morta?
de quê?
de ausência e silêncio. 
guardei meu amor numa caixa, dentro de uma mala atravessando o oceano e ela se extraviou, só chegou metade de tudo, até de mim. vou voltar pra buscar, talvez te ache com meu pedaço e o jogue pro Tejo, pra dar sorte.
fazendo odes aos corações ao mar, esse passou tão longe que ainda não teve tempo de se afogar.
que flutuasse num céu de abril, com diamantes comestíveis.


domingo, 29 de abril de 2012

ode a mim.

descobri dia desses que aprendi andar correndo, fruto de benzedeira.
o machado saía fogo de lá e de cá e no meio tudo se inflamava, como sempre. eu adulta me vi criança. nunca mudei.
só corro quando o machado sai fogo.

em exatamente um mês, escrevo em páginas de agosto o desgosto que me tortura nessa ressaca eterna do que bebi rápido demais. aos trancos desse calor, essa rotina clara demais pra quem hoje prefere o escuro. me acho e vejo todos eles e suas rugas, me recuso a ver a forma que adquiri. me saboto, cogito ajuda e desacredito. sou mulher demais pra dispensar alguma explicação. não ouço, minha cabeça é um mundo. falo sem saber, dissolvo minha inteligência em toda essa aspereza escura que cultivo numa falta de opção. me obrigo a lembrar que nada posso dar, porque não há nada a transbordar.
sou indiferente a mim, me ignoro e desconheço por opção o peso da vida que me parte a cara e entrega a frustração antes da hora.
mantenho-me suspensa no ar.

quarta-feira, 28 de março de 2012

sem tantos fantasmas assim, minha carne fagocita minhas palavras.
masca
engole
e não cospe.
vomita ralo, se limpa e se cala.

até breve.


terça-feira, 27 de março de 2012

nessa alma livre que me assola como um furacão só quero o que me prenda, me consuma e me ilumine, nessa sina absurdamente humana que me torno quando amo.

não posso amar sozinha, não quero.
não quero sofrer sozinha, não posso.
nesse mar que nunca chega, nessa vontade afogada nele e no seu peito tão grande como a minha saudade, eu não posso esperar mais.

me leva logo
porque não tenho outra ideia melhor.

quarta-feira, 21 de março de 2012

soprada a saudade de ventos além-mar, o coração cantou as noites divididas.
apertou a distância, a brasa queimou a barra do meu vestido, as pupilas se desenharam involuntariamente nesse prenúncio de tragédia rotineira.
o gosto do vinho barato molhou minha boca, me fez lembrar do pavor das noites sem você, me fez amar meu risco negro de Miró, me fez praticar a paciência, ensinada a pontapés.
aprendi antes de você o benefício e a dureza do silêncio.
cortante pra quem cala.
desaprendi a te escrever, a te arder.
me calo, me engulo e espero.

segunda-feira, 19 de março de 2012

e tudo se resume em impulso
em saudade invicta.
eu, cada vez mais forte de cá.
de você não sei.
sei do que te abriga, e ele sangra de fortidão.
sem água, dessa vez enxergo melhor.

me vôo.
reconsidero meus açúcares.


quarta-feira, 14 de março de 2012

afirmo o amor. 
agradeço o impulso
amadureço a sozinhez
aceno sorrindo
volto depressa.

quinta-feira, 8 de março de 2012

e hoje saio vestido no vento, boca carmim na brancura de pernas grossas.
meio cabelo de lado, mais cabeça alada, menos frio, menos fria.
saio vermelha, segurando o coração de cá e boca de lá num frenesi carmim que não pedi pra ser, que me consome em doses angustiadas de calor na vida de sempre em que a resposta é não sucumbir.
não vou.
na quinta feira dos mundos findos, que imploda o peso dentro de mim.

quarta-feira, 7 de março de 2012

vá.
me encontre nas esquinas barulhadas de corações eufóricos.
me encontre nos cantos silenciados de corações afogados.
me abrace em praças vazia e frias de gente.
me olhe com poesia.
me mastigue com romance
e me cuspa com terror.

sábado, 14 de janeiro de 2012

vejo meu quarto português. ele nu, sem os deuses que rezavam toda noite na minha cabeça. 
vejo o que levo de volta.
resta mais do que deveria restar. 
dentro de mim e dele.
volto pesada de qualquer coisa estranha que só o sol me dirá o que é.
permaneço menos dolorida, mais embriagada do lugar novo que descobri no último dia.
aprendi a amar pequeno, me cabia aqui como nada, me incomodava daqui com frequências inimagináveis.
não fecho as malas, ponho os pés nelas, as deixo no corredor cumprindo a sina de não fechar janelas.
aprendo a aprender a fechar ciclos, varrer quartos, fechar portas e carregar menos.
e assim, no último dia da linha tênue do que posso chamar de meu, o amo em cada segundo, em cada metro singelo do que abrigou minha cabeça e meus passares daquela morte.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

no limbo das mãos minhas.

de mãos estranhas, em que deveriam escrever num papel branco, sistematicamente escrevem num teclado eufórico de angústia ou nojo.
as amo, por terem sido de pianista na infância, as amo por segurarem tudo que quero.
as odeio por serem tão grandes que escorrem o que eu quero mais.
são lindas, são nervosas, suadas, amarelas, grandes, grandes, grandes.
preenchem.
o que não tenho nelas, são et's de mim.
são nuas, e assim permanecem na aflição da feminilidade dos extremos de mim.
são extremos e talvez por isso, fora?
são meus extremos, gelados, eufóricos.
são o que eu preciso e repudio.
são cansadas, são esquecidas de carinho.
são mãos não tão menos doloridas que as suas, desse lado.

minha varanda.

pra ela, uma casa com varanda.
pra ele, uma rede na varanda.
pra ela, um chapéu coco na cadeira da varanda.
pra ele, o rock n'roll na varanda.
o sorriso que ilumina a varanda, dela.
o microfone surdo pra ela, o violão baixo também.
a piada pra ele.
nós por todos, nessa varanda minha que arde o coração de felicidade.