quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Eu não estou aqui.

"Não fale", "não pressione", "não force", "não mande essa mensagem", "não envie esse e-mail", "pare de chorar assim!", "pare de sofrer!", "larga de histeria!", "olhe pelo outro lado", "não se manifeste", "não reclame", "não lembre!", "tem certeza que a situação merece esse circo todo?", "pare de gritar!", "ficou louca?".
Fiquei. Enlouquecida. Esqueci de me ouvir ouvindo tanto os outros, esqueci como eu reagiria em uma situação por não ter chão, e aí as pessoas se apossaram dele. Não por falta de ajuda minha, nem por descuido, elas simplesmente montaram a barraca no meu terreno, eu deixei. E os inúmeros palpites, sugestões, se tornaram ações, que não eram minhas. Eu não pensaria daquele jeito, não agiria assim.
Preciso me libertar dessas milhões de vozes que não são minhas, desses planos de vida que não são meus, desses olhares que eu adotei, preciso aposentar os sorrisos amarelos, a Isadora pela metade, os amigos não tão amigos, as coisas que nunca tive vontade fazer. Preciso aposentar uma cabeça doente, um coração ralado, um estômago machucado, um pulmão velho, olhos molhados, mãos nervosas, pernas inquietas, todo o suor e o nó da garganta.
Não gosto de quem eu me tornei.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

(des)agostos

Hoje o dia acordou triste, o buraco de muito tempo ainda estava lá, escuro e grande. E a faísca de desespero me jogou pra fora da cama e me fez pensar em qualquer coisa mais banal. Sempre odiei esse papo de depressivo, mas peguei na mão da tristeza e ela só ficou calada, como eu queria que muita gente também tivesse ficado. Eu deveria ter ficado calada.
Clarice diz que se a gente tem o direito ao grito deve gritar, e eu gritei, por exatos 101 dias. Gritei, chorei e agora me calei.
Não por falta do que dizer, porque eu poderia gritar por mais cem dias, mas por ter sucumbido a qualquer coisa que eu não alcanço e que não vou alcançar, não por falta de tentar ou de querer, mas por não chegar até mim.
Acho que a auto-destruição sempre me encantou de alguma forma, meus ciclos não se fecham antes que eu feche a mim mesma, e me enclausure em um lugar qualquer escuro que me apavore, além de doer latente nos dias de chuva, e achar os dias de sol um porre total. Em qualquer papel velho escrevi que me sentir sozinha e implorar por um carinho e sorrisos sinceros faziam parte do plano anterior, e faziam mesmo, até eu descobrir que os planos se repetem.
Zeca diz que não quer passar agosto esperando setembro, há dias eu espero meus agostos passarem. Talvez se eu me sentar e esperar eles passem, não quero ver o sol agora.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Depois de Paris.

Me dói muito ver aquela tristeza tão concretada nele, sempre molhado de uma noite desesperadora. Me dói o festival mental de 'poderia ter sido assim se...'. Me dói imensamente o fato de não poder dividir, de não ter o direito de amar, de não ter o direito de pegar o que é meu.
Num dia de sol, as justificativas de vida fazem sentido, num dia cansado de viver, todo mundo tem o direito de não sentir. E eu me dei esse direito por algumas horas, e ele se arrastou por uma eternidade, abafando o pouquinho de felicidade que eu consegui numa infinidade de tempo.
Cheguei no limite, de mim.
Já não respondo aos meus gritos, já não me comovo com as minhas lágrimas, já não me defendo dos meus tapas. As vezes me perco de tudo e não sei onde ficar ou pra onde ir, com quem falar, só tenho os meus olhos perdidos no deserto, aquele meu, as vezes compartilhado.
Ver o amor foi o pior e o melhor dos meus fantasmas, a mão que afaga é a mesma que bate. Um dia eu volto pra buscar o que é meu.
Quando eu voltar de Paris.
Que esteja lá.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os meus versos.

“Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.”

Depois de Pessoa embalar uma tarde triste pra quem viu e com promessas de concretude pra quem vê, descobri que eu saí do círculo.

Aquele círculo dolorido, chorado, arrastado, pra pular dentro de mim e de minhas Clariceanices despenteadas, limpas e grandes. Me bastei.

Assentei meu sorriso na alma, as borboletas no estômago, os centímetros que ganhei, os olhos não mais molhados, e a poesia de volta.

Li muito sobre ciclos e fechamentos de portas, como li sobre aberturas de janelas. Minhas janelas estão se abrindo, minhas asas saindo do armário, meus sorrisos de onde, não sei. Talvez da Isadora que esqueci em alguma janela aberta nos fundos da casa.

Outro dia.

Não achei que teria outros, que chegaria até outros. Cada tijolo teve seu quinhão de dor em mim, e de altura.

Meu muro mais alto, mais merecido e um tanto quanto dolorido.

Enquanto minha dor se esparrama, minha felicidade se faz em versos.

sábado, 13 de novembro de 2010

O primeiro dia.

Eu vi o amor. Escancarado. Querendo comer e ser comido. Querendo gritar, se esparramar, se espreguiçar, derramar, correr em mim e me matar de felicidade.
Eu vi. E ele estava em mim, tão agarrado, tão meu, que ninguém pôde me tirar.
Posso contar pros meus netos o que vi, e dizer pra que eles façam o mesmo, quantas vezes puderem, quiserem, conseguirem. E não vou alertar sobre a dor de depois, ninguém deve o fazer, é uma das piores maldades desse mundo.
E doeu, como nunca nada me doeu antes. Meu jardim murchou, meu céu caiu, meu chão sumiu, não lembrava das minhas músicas preferidas, não lembrava que sentia fome de manhã, esqueci do mar, não fiz brigadeiro a tarde, não olhei pro sol, meu olhar não atingia a copa das árvores, as vezes ele não abria.
Eu morri. Simbolicamente. Mas morri.
E depois de tanto descer e morrer todos os dias, eu sorri.
Olhei pro céu e ele estava cinza, mas mais lindo que nunca, olhei e meus velhos amigos eram os mais novos que eu poderia ter, as mesmas músicas não eram aquelas, eram outras, as pessoas eram todas tristes comparadas a mim enquanto eu fazia o mesmo caminho de sempre, sorrindo como nunca.
No aniversário de um ano da semana em que fui mais feliz na vida, eu fui feliz. Depois de ter sido triste, não ficado triste.
E o que isso fez de mim? Só mais humana. Mais Isadora e menos qualquer outra coisa.

domingo, 7 de novembro de 2010

Os relógios de Dalí.

Minha dor precisa de espaço, de quebrar as paredes, de gritar um pouco mais. O silêncio, o escuro, e o cobertor de hoje, fizeram ela caber no meu quarto. E se agarrar em mim.
Hoje preciso mexer as pernas e os braços de vez em quando pra ver se ainda funcionam, preciso pensar quem fabricou o parafuso da escrivaninha, pra ter certeza que ainda penso em outra coisa a não ser nessa maldita dor.
Não foi difícil dizer 'não'. Foi previsível, esperado, calculado, inconscientemente. Na maioria das vezes não esperei muita coisa, porque não esperava muita coisa de mim. Nas vezes que sobraram, eu me sentia segura, tinha uma mão pra segurar, um telefone pra ligar e dizer boa noite, alguém pra contar as novidades e pra me abraçar quando o mundo tivesse acabando.
E o mundo acabou, dentro de mim. Meus andaimes caíram de uma vez, me senti derretendo como os relógios de Dalí. E ele não me abraçou.
O segundo tapa na cara. Não doeu tanto assim, só cimentou a dor de antes.
Nem tudo mais tem a cara dele, muita coisa não me diz nada, aqueles olhos me dizem a mesma coisa há tempos, sinto falta dos olhares de antes. Qualquer um deles.
Agora tem um medo novo, que eu nunca tive. Medo da vida. Das pessoas que estão por vir, das viagens que ainda não fiz, dos caras que ainda não conheci, dos amigos que vão se afastar, e dos que vão chegar.
Ironia ter medo da própria vida.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Meu equilíbrio.

Meu equilíbrio entre a dor lancinante e os dias em que consigo respirar? Meu equilíbrio entre a ignorância e a agudez de felicidade? Meu equilíbrio entre Nietzsche e Caio Fernando? Meus dias de Clarice? Minha vida angustiada? Meu luto? Minhas lágrimas? Meu vazio.
As vezes sinto que meu equilíbrio não existe mais, todos os meu dias encharcados de uma surpresa que não quero ter, 'será que hoje eu choro?'.
Antes tinha uma surpresa que já nem era mais surpresa, porque eu já ia correndo na frente para poder beber antes de ser oferecida a mim. Hoje a surpresa do dia me acua como o medo de cachorro bravo. A surpresa do dia me dói lá no fundo, e me deixa frágil, criança.
Ele é meu equilíbrio? Algumas vezes sim, e algumas vezes é só uma parte doída de mim, aquela que falta, que não me diz, não me olha e nem me toca. Meu equilíbrio entre meu mundo de falta e a vida real. Meu equilíbrio entre as possibilidades e o abraço. Entre dias Clarice e Caio. Entre dias de vida e de tão desejada morte.
Que já foi o motivo de minhas mortes simbólicas, é meu luto tão odiado, é minha nova dor, minha eterna cicatriz, minha sempre felicidade de última hora.
Não admito nada aquém do que já tive.
Enquanto isso tento respirar 3 vezes por semana, 1 dia de conversa instituída, 1 dia na terapia, divido um fardo com os amigos e me torturo como sempre.

domingo, 10 de outubro de 2010

Attraversiamo

Num dia tão cheio de nada e vazio de tudo, a vida me sorriu algumas vezes durante este dia. Uma onda alegre vinha me beijar, tão alegre que as vezes me dava medo, medo daqueles de chorar quietinha só pra dizer que chorou, e aí tomar a decisão certa, náuseas, àquelas iguais a das mãos dele na minha cintura, e o primeiro sorriso meu, daquele meu, e só meu. Cresci um pouquinho, de tamanho, de coração, de mim. Fui no restaurante novo, com aqueles velhos olhos molhados do nada que já me pertencia, sentei no lugar proibido, e recebi sinceros e penosos compadecimentos dos velhos olhos inchados. E me acostumei com meu nada do dia. Sabia que seria um dia de surpresa, alegria de matar saudade e medo daqueles de atravessar avenida movimentada, mas sem pensar muito, fui. Tão Isadora como nunca, e ri, achando graça de cada uma de minhas própria definições. Andei onde eu tive saudade, e queria ficar, mas estava curiosa demais pra saber o que tinha mais a frente. Bonitos olhos daquela moça. Eu queria aquele filme, não sei porque, mas era ele, e me causei estranheza por ter dito isso pela segunda vez na vida. Me sentei e me vi lá, tão frágil, desesperada, incapaz de dar ou receber, vazia de vida, de si. Minhas mortes simbólicas, e as vezes querendo colo de mim mesma. E sorri no canto. Não sabia que podia ser tão mulher, tão mais um pouco de mim por dia. "O desequilíbrio faz parte de uma vida equilibrada." Obrigada, Yoda.

domingo, 26 de setembro de 2010

O querer.

Sabe, tive uma vontade enorme de arrumar seu cabelo aquele dia. A franja caída sempre me incomodou, aquela sombrancelha atrapalhada me dava vontade te abraçar e dizer que ia ficar tudo bem. Quis te ligar e te chamar pra jantar lasanha com rúcula, tomar coca-cola e rir de qualquer coisa na TV. Quis olhar pra você por 30 segundos ininterruptos e depois ver você sorrir bobo e bravo por não entender o porque daquele olhar tão desconfiado.Quis seu abraço em volta de mim pra domir menos doída. Quis seu bom dia pra acordar mais feliz. Quis ouví-los tanto. Quis a sua mão fria e boba na minha cintura. Nunca quis tanto ouvir sua voz. Quis aquele quarto mágico e aquelas figuras dançantes. Quis ouvir um blues com você e esperar o vento que sempre vem. Quis não acordar pra não ter que mexer e tirar seu abraço de mim outra vez. Quis olhar e te ver, mas não triste daquele jeito. Não com aqueles olhos. Não com aquele cheiro que não era seu. Com aquele rosto que não era seu.
E depois de imóvel, dilacerada e perdida no meio de qualquer coisa, percebi que não éramos mais.
Nada. Nenhum de nós.
E aí gritei.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O meio

Porque pedir agora o que nunca tive? Porque implorar o que nunca me pertenceu? Aquela parte fria de mim, me disse: amor e decepção são apenas dois aspectos de um mesmo processo, minha querida. E a minha parte humana respondeu chorando uma dor morna. Não existiram palavras, reclamações, gestos, só uma lágrima duramente contida naquele turbilhão de promessas imaturamente feitas. Chorar agora por que? Pra que? Por mim? Por ele? Pelo fim do amor? Pelo fim de nós dois? Não. Agora é pela decepção, pelo não dizer nada, pelas ações impensadas. "Não vale a pena", ela me disse. Chorar pelo que, vale a pena? Por amores não correspondidos? Por bater o braço na parede de chapisco? Por não ter atendido o telefone? Por fazer mais do que deveria?
Não me dói esperar a primavera, o inverno que me congela.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pra doer menos.

Minha dor se sabe. Sai antes de ser enxerida, acaba na poesia do meu inverno. Depois dela vem a primavera. A minha e de mais ninguém.
(continua...)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Os nossos mistérios.

Ele é, e sempre foi um mistério pra mim, desde os óculos e a bateria imaginária as sete da manhã, até a amargura tão profunda que dói até, e principalmente nos outros. Daquele sorriso, até a prolixidade triste daquela noite, dos olhos doídos até as mãos carinhosas. Nunca sei se ele viveu cinco ou quinhentos anos, se ele sabe de tudo ou não sabe de nada. Isso confundiu minhas 4 pessoas de Pessoa. Será que ele volta? Uma pergunta melhor, será que eu volto? Escorri lentamente pelas mãos bonitas e frias, derreti dos olhos doídos até derramar em mim e na minha dor e gritar ela pro mundo e abafar com coisas banais. Tem que doer! Não aprendi até hoje?! Não. Meu amor é bobo, é fraco. Cogita nascer em outro canto, vai ser mais saudável, vai ser mais feliz, vai ser mais suave, mais suave que essa vida toda. Mas ela ainda espera aquela mão fria, bonita e tão familiar se estender por livre e espontânea vontade e agarrar com a mesma força de antes, acompanhado daquele abraço que eu peço com os olhos há tanto.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O problema deles.

Concluí que o problema dos homens é uma amnésia aguda e irreparável. O que acontece com eles que eles esquecem tudo que disseram no começo do namoro? Será que eles batem a cabeça em algum lugar? Será que eles caem durante o banho, andando na rua? Será que simplesmente um pedaço do cérebro pára de funcionar?
Não consigo entender realmente o que acontece. Onde vão parar os 'linda', 'minha gostosa', 'bom dia meu amor', 'boa noite, querida', 'quero casar com você' ???
Depois de árdua pesquisa, e diferentes respostas do tipo "eles só fazem isso pra conquistar, depois esquecem mesmo" ou "eu acho que o cérebro deles desintegra", concluí que eles realmente depois que o namoro ou casamento - coisas que eles acham que não precisam ser mantidas, porque pra quê trabalho não é mesmo? Ela já está no papo mesmo. - estão estáveis, eles sofrem de uma doença não tão rara em seres do sexo masculino, amnésia aguda e irreparável. Não lembram, não falam, não elogiam. Esquecem. Nem adianta colocar aquela blusa de renda que ele te achava linda quando a colocava, quanto mais curta a saia, menor o interesse, só se outro homem passar a mão na sua bunda, aí ele pode - leia de novo, pode! - se importar.
Então, meninas, quando sua mãe diz "se ame, se adore, se ache linda", siga o conselho dela, porque se depender de um elogio deles, você infelizmente vai se decepcionar, vai chorar, vai ficar deprimida, e com o dinheiro do Rivotril, compre uma bota nova.
Meninos leitores. Nós nos decepcionamos com vocês em algum momento da relação, portanto, não se assustem se de uma hora pra outra comprarmos roupas novas, esquecermos de vocês de um modo considerável e quisermos sair pro mundo. Vocês só tem duas alternativas: ou elogiam, ou a bota nova vai estrear na bunda de vocês.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O que ficou pelo caminho.

Tentei me segurar em algum lugar, e na falta de um, segurei em mim mesma, e então me perdi dele e ele se perdeu de mim. As bocas inquietas, os olhos fixos numa tarde qualquer, a mão aflita segurando tão forte que possa ter certeza que a mão do outro não vai fugir. Não sei em qual parte da história se perderam, não sei em qual 'deixa pra lá' ficaram, ou em qual olhar de reprovação ficaram presos.
Me sentir sozinha não fazia parte do plano, achar um carinho anormal é daquele plano velho, torcer por um sorriso sincero e por dias bons já foi pensado, vivido e desvivido. Me quero de volta, quero a doçura dele envolvendo a minha paz outra vez. Acho que esquecemos o azul perdido no caminho. Eu quero voltar para pegá-lo, preciso voltar. Se for pra ser assim, não quero mais ser adulta, não quero mais pensar. Me mudo pra longe e me dou bem com o mar, me mudo pra longe e me mudo das pessoas, e as pessoas se mudam de mim.
Preciso saber em que caixa as palavras bonitas foram guardadas, em que pote os suspiros estão, embaixo de qual cama os sorrisos ficaram. Não gosto de perder as coisas, muito menos me perder de mim.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Torturas graveolísticas.

quando eu ouço as canções que eu fiz pra você
o tempo vem dizer
o que o tempo deve ser
o espaço em que agora o meu passo chegar
vai dizer:
- amanhã já é outro lugar

eu juro que é melhor enfim
eu juro que é melhor assim

eu já não ligo mais para você
hoje não canto
não falo, não saio, não durmo bem.
os tênues fios que me ligam a você estão hoje em prantos
e no entanto arriscamos tanto nos envolver

desligo você, nus deslizamos
pra que te esquecer
se o amor é tanto?
existo em você
por louco engano.

sábado, 5 de junho de 2010

Ela e os serás.

Ela se sente com 50 anos, a mulher rejeitada pelo marido que gosta das bonitinhas, novinhas, que combinam a calcinha (quando usam) com a cor do vestido. Ela sente que as outras são mais interessantes que ela, e devem ser mesmo, porque as melhores palavras e sorrisos são delas. Acabou o doce de leite.
Concluiu naquela terça feira que de fato as outras são melhores, e que ela é dispensável. Tão dispensável que seu coração foi deixado por ele, em meio a elogios a calcinhas e reclamações da vida a dois.
Será que ele tem os mesmos apagões de personalidade como ela? Daqueles em que atitudes são tomadas como se estivesse dormindo, ou em algum tipo de transe?! Não é possível, as pessoas são más assim, ou ela que é inocente demais? Ela deveria fazer o mesmo, pra dar o troco? Não, não é do feitio dela, é pequeno demais, ela acha essas atitudes dele pequenas demais, torce pra que não tenha asco algum dia. Mas será que já não tem? Será que já não ficou amarga demais? Será que já não ficou triste demais? Será que está acontecendo tudo de novo?
Ontem se perguntou se é imatura demais, se é boba pra vida, se não sabe lidar com as pessoas, se elas são ruins assim mesmo, se ela pode confiar neles. Viu que é boba de confiar assim nos outros, que todo mundo mente o que varia é só assunto (as vezes nem isso).
Ela não se acha acima de todos, não acha que tem razão o tempo todo, muito pelo contrário, acha que está sempre errada em alguma coisa, força do hábito, sabe como é.
Acabou criando em dias a carapaça que deveria ter criado em anos, aquela que a protege das coisas ruins da vida, que não a deixa sofrer por algumas coisas, mas ela ainda não está muito dura. E por esse motivo algumas lágrimas passam e ela ainda tem dúvidas se é melhor viver assim.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cuspindo o veneno. E aprendendo a andar sozinha.

Começando com A pergunta: Porque as mulheres gostam de sofrer?
Não é só uma pergunta, só mais uma delas, é simplesmente A pergunta, que norteia nossos rolos, namoros, casamentos e quem sabe divórcios, términos e noites bem choradas.
Nós, mulheres, gostamos de sofrer, sentimos prazer em descobrir uma coisa, qualquer coisa da ex namorada, do ex rolo, da ex mulher. É uma delícia, mas completamente torturante procurarmos um vestígio da vida dele sem a gente, sentimos que não é justo, que deveríamos estar lá, porque esse momento não poderia ter acontecido sem você, ou simplesmente "quem é essa piranha do seu lado?". Sim, minha cabeça arde, meu coração palpita, o ódio se mistura com indignação de descobrir que ele também chamava a outra de 'linda' e que você, é só mais uma que se encaixa nele. Mas nós temos a péssima mania de nos acharmos únicas, insubstituíveis, as mais amadas do mundo, e o que entala na nossa garganta é descobrir que não existe príncipe e que ninguém vem buscar a gente de cavalo branco. Se não formos, nós mesmas, arrear o cavalo e galopar, ninguém o fará por nós.
As mulheres podem ter ganhado indepêndencia financeira, podem ter dois empregos, votar, usar calças, mas o que nunca vamos nos libertar é dessa mania infeliz de sofrer por livre e espontânea vontade. Infeliz porque nos faz infeliz, porque nos puxa pra um passado que nem nosso foi, que nem temos a obrigação de sofrer por ele.
Descobri que se eu não sorrir, se eu não viver, ninguém o fará por mim. Ficar sofrendo pelo que nem é da minha jurisdição não tá rolando de acontecer.
Só falta cuspir o veneno entalado na minha garganta, começar a gostar das partes boas, e parar de esperar qual será o assunto da próxima DR.
Só descobrindo que posso controlar o que penso, e que posso andar sozinha, sem muletas.
E pra terminar uma frase sábia, de alguém não menos do que isso: "Se não deu querida, sem sofrer!Feliz!"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sobre o silêncio (meu e dele)

Sempre tive uma relação estranha com o silêncio, sempre gostei da sua calma e do jeito como eu fecho os olhos quando ele acontece. Mas poucas coisas me deixam com tanto medo quanto o silêncio.
Silêncio bom é silêncio que se explica, que venta sozinho, que fala no seu ouvido, que te embala na sua doçura. Sempre achei que as coisas boas eram as silenciosas, ou no máximo as sussuradas.
Aquele silêncio nervoso, calado, sem se auto explicar, me dói. Me incomoda, me acua, me deixa curiosa, mas com aquela curiosidade que não se quer descobrir. O silêncio negado é pior, não falar, não olhar, não respirar. Me mate de uma vez. Dói menos.
O silêncio dele faz em mim o que eu mais odeio. Barulho. E dos piores, de cadeira chutada, de garrafa quebrada, de carro batido, de panela caída, de prato de louça. É como se todos eles acontecessem de uma só vez, e se quebrassem bem dentro de mim, no lugar que mais me dói, e daí todos eles ficam presos na garganta como um bolo de lixo. E me incomodam por horas, talvez dias.
Não gosto de barulhos, de gritos, de batidas, de estardalhaços. Gosto do vento que o silêncio me traz, como se trouxesse um pouco de vida soprada suave em mim. Ele me traz silêncio, mas não gosto do seu próprio para mim.
Quero aquele silêncio doce outra vez.

terça-feira, 9 de março de 2010

Eles não existem.

Não perdôo minha mãe por ter me comprado de aniversário o maldito filme da Cinderela com o imbecil do príncipe encantado. Deveria haver uma punição para mães que fazem isso com suas filhas, é uma ilusão que só tende a crescer ao longo da vida. E ferrar com a vida das pobres meninas inocentes.

Depois de pensar muito, concluí que todas as aflições amorosas femininas são por causa dos filmes malditos com os príncipes imbecis.

Quando a menina tem seu primeiro namorado, têm absoluta certeza que é o homem da sua vida, que ele vai te trazer flores todos os dias, dizer que te ama, pegar na sua mão na frente de suas amigas e jurar que o amor de vocês é eterno. É só o que ela quer.

Mas ele, o seu namoradinho, só vai se esforçar para ser o mais imbecil que ele possa, não vai pegar na sua mão na frente das suas amigas, não vai dizer que te ama a não ser que diga tão baixo que você custe a ouvir e não vai te dar flores, ele só quer contar pros amigos coisas que só nós, meninas, contamos para aquele diário de cadeado de plástico.

E quando a mãe diz que não sabemos nada sobre a vida, que esse namoro não tem cabimento, que o namorado é um idiota, nós choramos, desejamos a morte da mãe e temos certeza que sabemos o que é a vida.

Quando terminamos com o pequeno imbecil, pensamos como tivemos a audácia de namorar com "aquilo", e que chicotadas doeriam menos do que sua consciência naquele momento. Faz parte.


Mas continuamos acreditando no príncipe encantado. Maldito.


No segundo namorado, quando afinal, sabemos beeemmm mais sobre a vida, os desejos ganham contornos mais sofisticados. Só precisamos de um único elogio pra começar a fantasiar sobre a vida eternamente feliz. Bobinhas.

Dói quando descobrimos que não vai ser perfeito a vida toda. E dói muito. Porque toda mulher sonha em ter o príncipe encantado, que te carregue no colo, que te mande torpedos apaixonados, que te deseje todos os minutos do dia, que não pense em outra mulher que não seja você. Queremos paixões arrebatadoras, queremos amor em todas as delícias que essa palavra possa ter, queremos que todos os dias sejam diferentemente apaixonados. Achamos pouco quando as mães dizem "Só precisamos de um companheiro". Companheiro nada! Queremos é morrer de amor todos os dias. Bobinhas (outra vez).


Quem deseja pouco, vive pouco. Descobrir que os seus desejos não vão se tornar realidade não mata, só dói. Daí chore, até desidratar, na maioria das vezes resolve.


Não existem dias perfeitos, mas não nego que dias felizes existam. Não existe vida perfeita, mas existem momentos extremamente felizes. Se não nos segurarmos meninas, caímos no poço da desilusão e ficaremos como Camélias, Joanas e Marias, dançando desiludidas.


E se nada resolver, a gente processa a Disney.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Ele.

Tudo fazia parte: seus cigarros, seus óculos escuros e a bateria imaginária tocada nas escadas às 7 da manhã.
E o mistério que me deixava intrigada.
Certa vez perguntei de seus óculos, respondeu com uma piadinha.
Noutra ele perguntou sobre Clarice, respondi com coração apertado.

E sumiu.

Depois, seu bigode engraçado me fez vê-lo de novo. Ficou estranhamente feliz, nunca tinha o visto assim antes.

Eu existindo.
E engolindo felicidade, guardei a informação.

Fui feliz naquele sábado.
A aposta me garantiu um beijo na frente da família.
A promessa de uma banda me deu promessas de felicidade azul.
Eu era dele antes que eu pudesse perceber.
Meus olhos eram dele.
Minha poesia era dele.
As circunstâncias não me levaram a ser dele, eu escolhi. Eu quis, como se precisasse respirar seu azul.
Ele me amava, me respeitava com aqueles olhos lindos.
Chorar de felicidade é maravilhoso.
E ver que é tudo verdade dá medo.
Mas tive poucos medos, quase nenhuma dúvida, milhares de sorrisos.

"Olá namorada".

Não precisaríamos de definições, era muito grande para caber dentro de uma.
É muito grande para caber dentro da gente.
É delicado.
É nosso e de mais ninguém.
Pernambuco, cortinas brancas, Blues, fotografias, ovos mexidos, suco de laranja, uma moto, o fusquinha, Francisco e nada mais.
Ninguém me tira isso.
Ele me faz mulher.

E a mais feliz desse mundo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Eu não existia

Não sei se todos sabem que existem.

Eu não existia.

Nunca existi. Nunca soube que podia falar não e ponto final, ou simplesmente fazer o que queria. Não sabia que ocupava um lugar em qualquer outro lugar, sentia que um saco abrigava minha respiração, e só.

Tinha sonhos emprestados, ideias compradas, sorrisos amarelos, medo da vida. Me agarrei a alguém porque não sabia que existia. Primitivo assim. Tomei conta da minha existência quando não aceitei viver de migalhas, de meio-amor com meio-sorriso.

Ninguém merece quases. Não sou meia-pessoa.

Queria como ninguém uma vida, mas não sabia por onde começar, nunca tinha tido uma. Não me lembro de mim, só dos outros. Só lembro de uma tristeza angustiada que sempre tive desde menina, de uma dor constante que as vezes fincava e dóia fino.

Tive vergonha de confessar que não sabia que existia, é algo que se tem desde sempre. Quando tive a coragem de admitir não nasci de novo, nem mudei minhas roupas ou comprei alguma coisa, só ri deliciosamente quando acordei.

Deliciosamente.

Essa é a palavra.

Nunca tinha rido com delícia. Foi a melhor sensação inteira que tive.

Acho brega dizer que me encontrei, a gente não encontra o que nunca teve. Eu simplesmente me dei conta que existia.

Antes do começo.

Meus fantasmas são mais cruéis do que o de outras pessoas, é fato que eles se divertem com o meu desespero. Me torturam com pinça, cera fria e cosquinha na costela, pelo simples prazer de me atazanar. Mas cansei de cosquinhas [que são bemmmm mais cruéis que pinça e cera fria], e agora é a minha vez.
Sei que quando os torturar, me torturarei junto. É como quando se admite vícios para então se tratar, minha dor virou um vício que não quero mais. Enquanto o tratamento de alguns é a rehab, o meu são as palavras.
Palavras que as vezes podem ser duras para alguns, mas leves para mim. Palavras que as vezes me machucam, mas precisam ser ditas, mastigadas, e enfim cuspidas. Palavras alegres demais, que não caberão dentro de mim, e que de tão leves voarão por aqui.
Minhas dores e meus amores precisam ser públicos, sempre precisaram, doem demais quando sozinhos em mim.

Tudo tem seu começo, eu tive o meu. Tardiamente, mas tive.
E é por ele que vou começar.