sábado, 31 de dezembro de 2011

chega de 2011 pra mim, chega dessa angústia calada, chega de doer apertado, chega de esperar. 
tá na hora de voltar.
voltar a ser mais pluma, voltar a ter menos olheira, voltar a sorrir mais, voltar a odiar os cantos amargurados.
chega de aperto, chega de sangrar por aí. 
acho que ainda sei sorrir doce, acho que ainda sei voar, acho que ainda sei a poesia de pernas em nó.
me endureci pela dor de perder, esqueci como é a alegria de ganhar.
tá na hora de ganhar.
sol no corpo, seus dedos no meu cabelo, sua voz de bom dia, meus shorts na esquina, o copo na minha mesa, meus sábados de volta.
nesse dia tão normal, que até o que me aperta é o mesmo, desejo que não aperte mais.
que o ano que me assalta de normalidade, seja o ano que me assalta de felicidade.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ando pensando nas cores da minha boca. ando pensando nas cores da minh'alma.
ando lendo poemas portugueses. ando pensando nas batidas de mim.
ando gostando de carmim seco. ando amando carmim tinto.
ando pensando em ti. ando pensando em nós, no meu tédio, na minha alegria preenchida.
tenho desaprendido a falar. ando aprendido a sentir.
ando desejando meu lado esquerdo. ando pensando nele derretido em blues.
ando em você, derretido em mim como os carmins secos da minha boca, como os carmins tintos que deslizam nela.
ando amando você, ando esquentando meu peito.
ando te vendo, vez ou outra, branco na minha tela de sorriso.
ando assim, vez você, vez blues, tudo junto, misturado num lado que de alguma forma sempre foi meu.
ando devagar, em dias seis que vagam devagar demais pra peitos que ardem.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

e nada tão diferente de tudo que acontece aqui dentro, ali fora é a mesma coisa.
o calor do verão, os beijos do vento, o carinho da maravilha, se transformam na dureza do inverno, na acidez do estômago, na distância infinita.
e nunca chega.
boiar na vida não é um privilégio meu.
tem que ser assim, dolorido, ralado, apertado.
nunca vou aprender, esqueci de tentar me acostumar.
boio nesse mar estranho e espero a bóia que vejo de tempos em tempos quando me levanto pra respirar.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

não faça.
não ouça.
não diga.
peça perdão.
ajoelhe-se.
e goste disso.
a crise da crença me assalta numa segunda-feira, em que acreditar soa como resposta relativa.
acredito no meu amor pelos meus, na beleza da minha vida, acredito em mim, acredito na minha insignificância no mundo e a admito, não a diminuo, não peço perdão por ela, não me martirizo por ela.
a misantropia da madrugada em claro me fez ver a hipocrisia de tantos.
a calmaria da manhã concordou e cimentou.
esbravejo meus erros numa liberdade única, sem precisar pagar por eles em outro plano, consciente da dor que já é pagar por tudo aqui.
se o paraíso for aqui, morrer vai ser o erro. 
escolhi ter um arrependimento a menos.

sábado, 17 de dezembro de 2011

numa noite em que os meus são meus até doer, o blues me arde.
numa noite em que tudo é vazio, se enche.
de uma embriaguez anormal, dessas de amor.
numa noite em que eu vejo o que é amor de todas as formas, vocês vem segurar meu coração.
numa noite que você me falta, você também está aqui.
no final de todos os ciclos consigo entender os sentidos deles.
voltarei mais Isadora do que nunca.

voltarei num coração cantado numa guitarra e tocado num gargalo frio.
voltarei mais filha, mais amiga, mais amor, mais liberdade, mais Vedder nas costas, mais pedra no sapato, mais solidão, mais vida, menos dor acumulada, essa que eu deixei aqui pra cobrir o frio do corpo.


a alma, já arejada de tudo e qualquer coisa que já não me atrevo mais a listar, caro leitor.
a simpatia atribuída é inerente.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

num dia em que o sorriso dele toma todo meu orgulho, mais uma vez não consigo mensurar o amor pelos meus.
desejo a ele a mesma felicidade que eu tenho hoje, desejo a ele a mesma sensação do rock de sempre, desejo a ele tudo que me ensinou. 
as manhãs de sábado, as tardes de sexta, as risadas de irmão, as vezes que ele segurou minha mão e me levou, mesmo que num gesto forçado, exalando o maior amor do mundo.
não sei dizer o quanto eu amo você.
meu Porto é vocês.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

às quartas e quintas.

e o velho rock queima meus ouvidos, junto com todo resto.
as última penas foram-se, em palavras de mãe, em palavras de amigo, numa quarta em que me resguardei das suas típicas armadilhas.
esperei o relógio mudar como todos os dias. como se cada meia noite fosse um passo a frente.
comprei areia e beleza, de uma vez só.
claro, numa quinta.
sempre depois do caos vem a brisa né?
pois.
é hora de comprar poesia.
comprar não, porque é muito duro pra alguma coisa que voa.
é hora de poesia, sem verbos. amanhã volto pra casa com um livro qualquer pra arejar a complacência cínica que minha dureza lança a minha doçura.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

hoje eu me despi da vergonha que já não tinha pra vestir a prisão da nudez. vesti toda ela, com todos os incômodos que a roupa nova concebe: o aperto, a raiva, o abotoar e finalmente o andar no ajuste que lhe cabe.
me arrepiei de um frio descomunal que em doses agora cavalares, congelam minhas certezas mais uma vez.
fantasiei o abraço pra me esquentar, fantasiei seus olhos em mim, tentei me deliciar em todos eles e os sopros que até então me empurram pra frente me envolveram na liberdade da falta, até chegar na falta de roupa.
o frio estocado acabou, perdeu pro frio de verdade. agora é a vez do calor, do short de domingo, da cerveja na esquina, de mim e todos eles.
aprender a esperar os ciclos se acabarem é dolorido, mas já aprendi depois de tanto.
espero, cheia de mim.
agora assim, amanhã como nunca deveria ter deixado de ser.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

numa noite em que descubro que a música preferida faz jus o título de mártir do amor, descubro também que me visto de você esperando a sua volta, como sempre imaginei que me vestiria, com as meias suas, na doçura que só nós sabemos.
elas me levam numa saudade inigualável, numa igualdade incalculável do amor que nunca medi.
as amo na mesma medida completamente diferente, porém idêntica ao seu sol em mim.
meus amores são iguais, em sóis diferentes.
consegui finalmente, no meu estado natural de estranheza e alucinação juntar os três que mais amo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"hoje os verdadeiros torcedores queimaram suas camisas"
eu não.
hoje eu tirei, lavei, e a olhei pendurada no varal na noite mais fria do lado de cá do Atlântico.
não cogitei a hipótese do abandono, chorei de raiva, chorei de saudade, chorei de amor, me calei de tristeza.
escrevo a dor que escorre de cada canto dos meus amores, e em silêncio escrevo mais uma dor que escorre ralo abaixo.
em silêncio escrevo mais uma carta de amor ridícula, assim como todas devem ser.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

hoje consigo sentir um mínimo de calor, hoje consigo soprar a nuvem que pairou em mim naquele novembro tão escuro, hoje Caetano por detrás dessa porta me soprou ares de uma volta fresca. hoje as borboletas passaram do estômago pra coração arrastando suas asas em cócegas delicadas, hoje eu mudei as finanças, as preferências, os roteiros. hoje eu mudei de curso, de paixão.
hoje eu quis ser pluma, deixar de ser pedra, cortei as cinco que se faziam de dedos meus.
hoje quero em mim o que é mim tão desigual.
assim, como uma bruta flor de querências caetanizadas pela saudade.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

pra ti.

pela primeira música que me enviaste.
pela angústia dos nossos silêncios calados forçosos, corri a busca de qualquer coisa que me uniste a ti.
comprei qualquer coisa que me deixasse mais perto.
baixei a primeira coisa que me levasse aos seus olhos e aos nossos pensamentos mútuos.
a angústia da tua ausência me leva a a ardência do meu coração.
vem logo. não posso mais esperar.

http://www.youtube.com/watch?v=RGwWlfuE0RY&feature=related

me desculpo pela portuguezisse eminente.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

querer é prisão.
querer não é justo.
querer não é humano. ou humano demais.
querer arde, sua, aperta, engasga, mata.
meu querer dói, e só o que eu queria era não querer.
nada.
o meu querer me soca a cara todos os dias, me sinto viva do jeito inverso.
o frio não ajuda, congela na mesma proporção meu nariz e minhas certezas.
eu peço sozinha, calada, molhando a blusa, a mala, o cabelo, quem tiver mais perto que arranque de mim isso que arde.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

no leito da burocracia, minha cabeça voa até minha árvore.
no meio de tanta imigração forçada, dolorida, sonolenta, me sinto colorida.
me sinto menos dolorida que todos eles, aflitos com seus papéis suados nas mãos nada menos do que isso.
não sei até onde a cabeça deles voa. é quase um pecado me aproximar deles, arranhados de uma vida que talvez nem valha esse esforço.
a minha eu sei pra onde voa.
pra aquela cama grande que as horas se arrastam com açúcar, pra aquele cheiro que me arrasta como vento, pra aquele calor que me prende como nada que eu consiga imaginar.
deixo uma flor e um bilhete onde você possa enxergar.
deixamos um tanto de calor e brisa onde possamos dormir e acordar lá onde é um pedaço meu, mais uma das vezes em que torci minha alma e pus no varal pra você.

não ando entendendo muito bem as coisas que se passam. aqui elas mudam, os ares são diferentes, meus hábitos deixaram de ser hábitos, me encontro na confusão, me encontro na rua cheia de carro, de fumaça, de frio e de uma história mal contada.
não tropeço na minha história, o propósito é ser livre, cabeça livre, corpo livre, palavra livre.
a viagem monástica é por mim, o silêncio as vezes se quebra, a dúvida as vezes invade, a paciência muitas vezes arde, mas nada como a ignorância da saudade.
ando aprendendo os extremos dos sentimentos em velocidades inimagináveis, talvez um dia tenha uma folga.
preciso respirar a fluidez do meu sol, preciso abraçar minhas almas semelhantes, preciso me esquentar em qualquer canto esquerdo que seja dele.
me queira esquentar de verdade.
me queira de verdade.
passe a mão no meu cabelo e esquente meu excesso de inverno.
só não me deixe padecer nesse deserto gelado em que monasticamente congelo minha paciência em doses.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

hoje os acordes que te prometi - seus - voltaram a doer.
não consegui ouvir sem coçar aquele machucado recém-cicatrizado.
pedi desculpas a mim, peço desculpas a você.
o amor deixa de ser amor quando provocar a loucura alheia é a única felicidade de dias que não passam nunca.
o ser humano é perverso, fomos perversos com tudo, raspamos o doce de leite com todos os dedos que encontramos, à la Svankmejer.
comecei a medir pelo que eu tenho e aí comecei a querer pelo que eu posso.
é a lei da vida.
agora é a minha.

domingo, 6 de novembro de 2011

estar aqui me fez perceber o quanto eu amo tudo que eu sempre achei que amei.
o meu lugar preferido, meu sorrisos preferidos, as músicas preferidas, os melhores ouvidos, o maior número de almas nuas.
minha vontade de tudo aquilo se resume num refinamento de texto induzido pela alma, a mais nua delas.
amo, amo, amo na mesma velocidade dessa guitarra.
arrastado, alto, impensável porém possível e real.
é o que me move: o impensável real.
das minhas saudades quentes, que voltarei a elas.
da minha saudade quente, que voltarei sem nunca ter ido, a ele.
meu coração se esvazia por agora.
de dor.
e só.



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

'os olhos que me apetecem
os sonhos que se antecedem
pra você chegar na estrada, caminho ou lugar
onde eu seja teu

vou te mostrar tudo ao redor
vidrar as paredes e só
não vou nem ligar
apaguei as luzes

parei onde você parou pra me esperar...'

paramos aqui, pra esperar tudo e qualquer coisa que vem até nós.
eu aqui, você daí.
paramos as palavras longe assim, paramos os olhos perto assim, paramos o sono no meio desse caminho grande, paramos nossos sorrisos quase aí, mais perto daqui.

continuamos os sorrisos pela água, continuamos os carinhos reais, continuamos a adorar nós mesmos transvestidos de oposto.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

não quero chuva
não quero noite
não quero frio
não quero obrigação
quero chão
não quero roupa
odeio calças.
não quero essa dor nas costas
não quero esse vento gelado
não quero essa distância.
quero o que pensei que fosse.
quero o meu colo.
quero você. quero eu. queremos nós.
quero a minha paz
cansei dos furacões
trovões
enxurradas.
quero o meu sossego boiando num mar de verão, num colo de mãe, num suspiro menos distante.

sábado, 29 de outubro de 2011

escrever o quê?
escrevo minha imaginação, escrevo os nossos nós, nossos mergulhos, nossos sorrisos.
irreais, surreais.
escrevo o que me transborda.
escrevo o dia laranja que me assalta.
escrevo você.
o seu lado esquerdo, meu suspiro calado, o quente desejado e nem por isso irreal.
me escrevo refletida na multidão do seu sorriso em mim, de ponta a ponta.
nos escrevo no reflexo de alguns quilômetros de água.
me vou desejando o meu mergulho, seus dedos e as risadas mútuas.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

nos meus novos rituais, os grampos invadem a minha vida. guardo todos na minha cabeça, os louros do lírio, os pretos meus, os invísiveis de casa. me dispo deles, me dispo do aperto, me visto de você. me ensopo de chuva e de sorriso, me embriago de vinho e você. me vou um pouco mais leve, me vôo um pouco mais além. me dispo de cabelo, de cama, de verão, me visto de silêncio. me levo na saudade do que já vi e na saudade inexplicada do que não vi. me dispo de leveza e me visto de maravilha.


me visto enfim, de insustentável e de inquietude.

sábado, 15 de outubro de 2011

sobre açúcares, afetos e ventos.

Chico enche minha solitária manhã de sábado ensolarado, hoje me sinto mais perto de casa, mais perto do meu azul, mais perto de você.
hoje me permiti deixar sentir, meu vício acaba junto com a malandragem buarqueana.
me permiti a surpresa de sentir, me permiti ficar comigo em paz
me permiti só os acordes lentos, a falta de furacão, o sol queimando devagar, a rede imaginária, a casa sozinha.
consegui ouvir o passarinho que vem toda manhã, ignorei os carros da rua, o telefone, o interfone, tudo que me dói, me desespera, me tira do eixo.
hoje treino a minha paz pra todos os outros dias.
mudar de vida talvez? a limpeza de tudo me encanta, hoje a casa é limpa, é minha, é fresca.
a praia espera outro dia.
de certa forma, a solidão me enche.
chega.
a vida me espera lenta, iluminada e cheia de vento levando o cabelo num frescor incomparável.



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

tudo que me permiti.

essa semana me permiti a sensação de derreter nos meus abraços de volta.
me permiti a única sensação que consegui suportar.
me permiti e sobrevivi a tristeza, nada tão novo. só digestão imediata.
permiti aos meus ouvidos as músicas da saudade.
permiti ao meu coração o sopro da espera.
permiti a minha visão o exercício forçado da maravilha pra não sucumbir.
ao meu fígado o remédio imediato da tristeza.
a minha tela de 11 polegadas a janela pro 5 de março.
aos outros, não permiti nada.
a mim, a minha vida de sempre, cheia de nada e faltando tudo.
não necessariamente nessa ordem.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

água em 8:02.

Empatando os dias bêbados, te escrevo em silêncio.
Desejo em silêncio sua leveza e seu peso, na mesma medida.
Desejo o sofrimento da sua presença e a delícia da sua distância.

Penso nos dias que adoraria sua maravilha em mim.

Penso nos dias que a minha falta, falta em tudo.
Me deixo acreditar que em você também.

O surreal de tudo isso se transforma num real encharcado de estranheza.

Me gosto com esperanças que me ventam.
Você me ventania.

O oceano é um monte maldito de água que me separa de tudo que me apego.

O oceano é um monte bendito de água que me faz viver o que preciso, não o blasfemo mais.

Sempre me afoguei em saliva, lágrima, vontade e saudade.

(os 8:02 acabam triunfantes no meu caminho Tamboril.)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

agora é hora de ouvir beleza.
me calar, fechar os olhos e só ouvir.
só ouvir você cuidar de mim e da minha impaciência infinita.
só ouvir você me levar pela mão dentro de um dia cheio de sol.
só ouvir as risadas se misturando dentro dos dias frescos.
agora é hora de esperar.


você existir.

domingo, 2 de outubro de 2011

não caibo.

a diferença chutou minha porta e minha harmonia, chutou minha expectativa e um pedaço de mim.
quando se tem um sim, um não é um tapa na cara.
me permiti só um dia de tristeza.
chega.
não sei o que esperar, nada diferente.
agora não tenho mais medo, a maravilha me assalta todos os dias, os medos são dispensáveis.
medo se tem quando nada te maravilha.
todos os dias a vida me grita que o meu caminho é sozinho, solitário não.
me paro num mundo além, às vezes o sentido escorre e não ocupa o mesmo espaço real.
misantropia é tão necessária quanto a socialização.
hoje me assusto mais com a minha misantropia.
não caibo.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

cansei.
de cuidar dos outros.
a escrita paragrafada não diz nada.
tristeza e felicidade são relativas.
exercito as duas na mesma medida.
meu jardim é bonito demais pra ficar assim.
cansei.
de esperar você.
ou você.
ou você.
ou você.
não sei acreditar no ditado 'não espere e aí então virá'.
espero sempre.
não sei deixar de desejar.
não sei me transformar no que eu sempre quis.
não sei me aceitar do jeito que sempre fui.
cansei.
de exercitar felicidade.
de exercitar bom humor.
me dei o direito do mau humor hoje.
me dei o direito de ouvir só uma música.
hoje não exercito o cérebro.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Necessidade. Fôlego. Beleza. Angústia de qualquer coisa que me faça escrever. Me apaixonei. Me entupi. Me transbordei de você numa alma bem velha que mora em mim. Me matei. Me ressuscitei. Me encantei por você. Resumi. Eu. Você. Minha dor.
Me fui.
E não voltei.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ode ao fôlego

Por 1 segundo tudo que era mais lancinante e voraz me envolveu num furacão que não me permite pontos numa aflição colossal de qualquer coisa que ainda nao decidi se eu a tenho ou ela que me tem por 1 segundo percebi o tamanho da minha aflição e desejei como que num lapso de poder que você pudesse vir até mim e não duvidei continuo não duvidando da sua súbita presença como o roubo de um pedaço de mim passando por cima de um oceano tão grande como a minha dúvida e o meu medo de qualquer coisa que isso me traga faça-me sentir o mesmo frio na barriga porém diferente daquele bonito e calmo dá-me o sopro final que preciso pra completar afinal aquilo do que já sou feita

o não-querer

Depois de um texto apagado lotado de uma hipocrisia que não acreditei ter saído de mim, logo vi que era impublicável e que realmente não tinha saído de mim, talvez de uma dupla personalidade bem provinciana. Escrevia sobre o não-querer e julgava que o meu doía menos nos outros do que o deles em mim. Bobagem pura. Faço com um afinco insustentável tudo aquilo que quero, não me dou o direito de achar nesses momentos, de duvidar de mim e das armas que tenho, por isso não suporto o não-querer alheio, quando tudo que tenho é jogado no chão num ato covarde que nem permiti. Ja pensei em algumas centenas de alternativas de viver sem essa dor, ainda não consegui nenhuma que fosse possível, e isso vai comendo meus dias numa aflição desnecessária. Alguns dias desejo tanto que o provincianismo da dupla personalidade tome conta de mim só pra sentir a benção da ignorância.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

o que aprendi do outro lado do oceano (até agora)

Aprendi que a praia me ensina a ter paciência. A esperar o mar se aquietar e me permitir, a esperar o vento diminuir e me levar as agudezas, a esperar o sol não queimar tanto e desejar a brisa fria e preguiçosa. Me ensina a não ter vergonha, me ensina a ignorar os outros num prenúncio de inverno que temo, mas me acalenta. Uma parte de Pessoa vive em mim, entendo agora, em terras portuguesas, o tamanho das suas palavras tão cheias de dor e de vida que agora me cheiram a sombra fresca. Ando por ruas que não me parecem tão diferentes, tenho amigos que não são tão novos assim, me embriago do de sempre, a minha alma velha se encanta vez ou outra com uma frequência brilhante, meu corpo novo empurra sua velhice pra frente. O velho mundo não é tão velho assim, e nem tão longe. Meus sonhos ja viviam nele numa intensidade absurda que desconfio ser mais perto do mundo em que minha cabeça sempre viveu.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Hoje eu não sei o que sentir. A felicidade me consome e trava minha escrita em pontos nervosos mas sobretudo, ansiosos. Hoje eu queria que você - não você - estivesse aqui, na verdade, eu aí. Não me surpreendo por me apaixonar pelo desconhecido, e sim pelo medo irracional de ir até ele. Na verdade, espero que ele venha até mim. Cansei de deslocamentos bruscos a favor de outrem, agora quero deslocamentos bruscos a meu favor - e apaixonados por favor, bem quentes, se possível. Fantasio a vida. Escolhi assim. Fantasio a minha dor de um drama trágico, quase mortal. Minha felicidade fantasio do impalpável. Meus amigos do etéreo, minha família do eterno, meus amores de beleza.
E você é beleza pra mim.
Tenho a incrível capacidade de me abster do anormal, de amar o que me dói, de desejar o pior pela certeza de dias melhores.
Não desejo mais a sua leitura de mim. Só a sua chegada pra mim, ou por mim.

sábado, 27 de agosto de 2011

ode à ressaca

Hoje minha casa acordou indignada com a política, com a impunidade, com a falta de vergonha. Hoje meu corpo acordou indignado por todos os dias em que fui infeliz, me dá tapas na cara através de uma ressaca homérica. Minha casa acordou indignada pelo silêncio forçado, meu corpo exalou a mesma raiva por esse silêncio maldito. Meu corpo acordou morto, minha casa viva, como a minha alma cheia de alguma coisa que por hoje, só por hoje, me basta.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

o vento que não canta.

'Chegamos ao fim..', foi uma das frases mais dolorosas que li/ouvi nesses meses tão estranhos. E escolhi simplesmente não pensar nela, não escrevê-la de imediato, deixar a dor esfriar, a noite gritar minha solidão confortável. Confesso que a chance de te enlouquecer com a minha dor aliviou um pouco da minha, mas me perdi e enlouqueci junto, de uma dor lancinante, feroz, que foi nos arrancando a paz noite adentro. Foi me arrancando a paciência de um céu que não clareava nunca e se parecia tanto comigo. Foi me arrancando o sono que há muito já te pertencia. Os gritos me arrancaram a força do corpo numa importância nula da minha parte, o travesseiro abafava o que ninguém precisava ouvir, só eu e você. Disse tudo o que eu quis, rasguei a carta que te escrevia, apaguei seus lembretes antes da viagem, substituí as horas que te pertenciam, tenho ficado boa nisso. 'Dois pensamentos não ocupam o mesmo lugar', tenho repetido sempre pra não padecer do buraco no meu peito que ainda não permite que o vento que passa por ele, cante.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

nua (como as outras).

Ela me perguntou qual é o sentido de tanto sofrer, disse que me conhecendo tal como conhece não vê sentido senão o amor. Duvidei do amor que eu sentia por ele ao tentar responder a pergunta, que ficou sem resposta aquela hora. Depois, quando resolvi, inconsciente, que meus dias seriam mais felizes, que não me deixaria levar dessa vez (porque provavelmente não voltaria) eu consegui responder a pergunta e respondi que sim, que eu ainda o amo, apesar das partes ruins serem maiores nos últimos dias. Eu te amo, mas não tenho sua parte no amor, talvez seja otimista demais. Queria tanto que você me entendesse, me leia! Me olhe nos olhos de vez em quando! Não me ponha nua como as outras, não me deixe abrir suas gavetas, só queria não ser igual a todas, achei que muita coisa sua era minha, mas você me pôs nua, igual a todas elas, marchando em volta do tanque e esperando a morte. Você é egoísta como Tomas, trouxe Tereza mas trouxe Sabina's, não é justo, aliás, custo a ver o que é justo nessa história. Insisto num misto de medo, curiosidade e amor.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

quando encontrei o livro.

Comecei a ler nossa história por acaso, procurando uma leitura pra chamar o sono que insiste em não aparecer todas as noites. Achei uma dedicatória do meu pai dizendo sobre lembranças, achei filosoficamente piegas a introdução como qualquer outra coisa que tinha lido por aí. Prestei mais atenção quando Tereza se transformou em Isadora, mais ainda quando Tomas se transformou em você, em mim, em nós dois juntos em paz, em nós dois em guerra com cada um, por cada um. Devorei vinte páginas em uma noite insone, não veio o sono pela angústia como em todas as noites, não veio porque encontrei o que sempre quis te dizer, encontrei a nossa história, todas as minhas maiores angústias escritas num tempo tão distante e num lugar mais distante ainda. Era eu, presa naquelas páginas, não importando se me misturava a Tereza, Sabina ou Tomas, eu, e tudo o que eu nunca consegui compilar pra te dizer, não preciso passar de 1/3 do livro pra me aliviar um pouco do peso da conversa inevitável, só pensei em dá-lo a você e só consegui desejar que você me visse naquelas páginas, a dúvida da sua sensibilidade quanto a isso me assaltou, devorei mais algumas páginas e dormi, acordei com a dedicatória escrita, a logística pronta, o sebo escolhido.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

o que se faz as segundas.

Hoje decidi dar uma volta, em mim mesma. Ao som de uma música alegre, a espera de dias melhores, com a certeza de paisagens mais bonitas e sensações menos duras. Decidi que amanhã darei uma volta pela cidade, ver algumas pessoas interessantes, cuidar do que me interessa. Decidi que amanhã verei uma coisa qualquer bonita e me apaixonarei por ela e aí então embrulho bem sua lembrança e levo comigo pra continuar quente. Amanhã darei uma volta no parque, no mercado talvez, tomar um sorvete, carregar as músicas pra amanhã. Decidi que amanhã eu não vou pensar em nada, só em como ser feliz dentro da terça-feira. Na sexta, pelo jazz, decidi que é dia de botas e batom vermelho, não sei porque. No sábado ... não se planeja sábados. Domingo é o dia de mostrar o resultado do resgate, a velha blusa nova e os óculos meio perdidos no tempo. Hoje decidi planejar terças, sextas e domingos, nada mais.

sábado, 30 de julho de 2011

Quando eu era criança, fazer 'pouco caso' de alguém era extremamente condenável, hoje não é mais condenável, é só dolorido de um jeito que nem consigo explicar. O seu 'pouco caso' acaba com o resto de vida que sobra em mim, não me sinto amada, desejada, querida. Não sei distinguir se sua preguiça é de mim ou por causa de mim, não me deite aquele olhar morto outra vez. Não sei lidar com sua ausência, com sua presença, com a falta de mim, com o excesso de solidão, me perdi de mim e procuro em vão pela minha alma, como diria Chico. Cansei dessa vida em que aceito tudo enquanto vira martírio, as pressões dos amigos, a falta de você, os segredos deles, eu recalcada, eu calada, eu sozinha. Não mãe, não tô deprimida, não sou deprimida, só preciso encontrar meu caminho, preciso me livrar de todo esse peso quente que queima minhas costas há tantos anos. Devo ter feito alguma coisa muito errada pra ser negada a mim a única coisa que sempre dei em abundância, carinho. Vejo tanta maldade nessa sua negação, tanta coisa não contada, não explicada como se fosse um segredo sórdido que não duvido que ainda exista nas suas meias palavras. Me conte, me fale, grite! Preciso saber o que se passa, não foi isso que combinamos, não me torture tanto. Não me deixe pensar que a sua palavra não vale nada, que sua lágrimas são de crocodilo, não traia suas palavras, não traia o que você sente por mim ou pelo menos o que sentiu por mim, ainda existo e não mereço essa indiferença e quase-inveja do seu frescor que não mais me comporta.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

de Caio, pra mim.

'Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. [...] E se ela se afogar, se recupera. [...] E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça – que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca – levanta e segue em frente.'

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Hoje decidi escrever pra você, como já o fiz tantas vezes mesmo engasgada. Me pergunto o que estamos fazendo, porque agimos assim um com o outro, é muito rancor, eu sei. Me apavoro com seu desespero ao me olhar e então não faço nada, me recolho a meu título de 'planta'. Me perguntei se ainda te amava, então entendi Chico cantando 'porque era ele. porque era eu', Montaigne foi sábio em suas palavras, Chico sublime nesse momento. Só se ama o que se parece com você, não se ama o outro lado se você quer é ficar aqui, te amar nesse momento é o mesmo que me perguntar se eu me amo. Não me recuperei de ter caído naquele buraco, menos dias de vida devo àqueles tempos e eles me deixaram tão parecida com você e sua dor que as vezes não me reconheço, te incorporo e não me amo, não te amo. Amo o seu sorriso despreocupado, amo o seu sono, amo suas mãos que costumavam ser mais pacientes e me amo na mesma medida, homeopática. Agostos intermináveis fazem parte da nossa vida não é? Odeio a nossa ignorância em insistir no desconhecimento de nós dois, daqui alguns anos nos perguntaremos 'porque não deixei que só fosse doce?', burros. Tem que ser, não tem outro jeito, naõ sofra tanto assim. Prometi que não ia mais doer, era o propósito desse novo encontro, lembra? Não chorar mais. Você não me deixou chorar, obrigada. Continue segurando minha mão

terça-feira, 26 de julho de 2011

o que eu sonho (sonho?)

Sonho com tudo que me assombra, o suor que encharca meu travesseiro vem da mesma fonte dos meus medos. Sonho com aquela viagem, o ônibus e todo o horror que me causou, sonho com as suas costas indo embora de mim, sonho com a minha covardia, com todas as migalhas. Preciso não estar a sua mercê e a mercê de tudo que te envolve, ela roubando o que é meu por direito de sentir, você deixando que ela roube, preciso não sonhar com todos os nossos erros, todo o círculo vicioso que nos tornamos, preciso me lembrar que prometi que seria doce, preciso me conformar que a culpa não é minha e portanto não sofrer por isso, mas não adianta. Preciso acima de tudo ouvir 'eu te amo', 'me importo com você', 'desejo você, 'segura minha mão, vamos atravessar esse agosto interminável juntos'. É isso que preciso ouvir, e só.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os meu porques me matam, a noite os resolvo e de manhã me enforcam. Fico tentando encontrar alguma explicação pro desequilíbrio e estranheza da minha vida, não entendo tanta bagunça e desalinho, sei como cheguei ao caos só não sei sair dele. Desafiei a vida e o meu poder de ser feliz, os dois me ganharam só me restou aquele impulso vital. Fico pensando se viajar é um erro, se tudo que espero na verdade não me pertence, nunca aconteceria comigo, o impulso vital me empurra pra frente, exercendo sua função. A falta de amor me leva a loucura extrema, não tenho lugar até nos meus próprios lugares, as grosserias passam por mim como se eu fosse uma planta esperando algum fio de água e um pouco de sol, e como planta que me torno, tomo algum tipo de consciência do meu lugar e me recolho a terra seca e a esperança de dias melhores. A espera desses dias me enlouquece, você não sabe que me mata aos poucos? Odeio tanto o rancor que sinto da vida, aprender a ser amarga foi a pior coisa que aprendi, odeio todas os seus erros que me atingiram, não me curo deles e não sei viver com eles, pronto. Não sou vítima dos seus erros, se fosse, tudo seria mais fácil, na verdade acho que nem você é vítima deles só teve a infelicidade de cometê-los. Não te defendo, nesta manhã te blasfemo e só nessa manhã te culpo do meu caos porque se me culpar por mais alguma coisa não sei o que sobra pra depois. Gritar o que eu quero pro mundo ou pra meia dúzia de pessoas que me lêem é só o que me sobrou, não me tire isso também, se me ler finja que não, por favor, e se quiser alguma explicação substitua por um carinho, pulemos a parte dolorida.

domingo, 17 de julho de 2011

os meus, os seus e os nossos fantasmas.

Sempre quando leio você tenho medo de nos escrever. Não sei o que pensar de tudo que leio, não gosto de me sentir menos mulher do que todas, não gosto de não ouvir sobre mim, não gosto de sentir tudo isso. Me envergonho por não ter a coragem de mudar isso, me sinto covarde, acuada por alguma coisa que ainda não consegui decifrar. Sei que sempre há o que falte, mas não voltei ao barco pra que falte, apesar de todas as pré-combinações. Não reclamo, aceitei o que me foi proposto, só queria me reconhecer nessa proposta. Passo os dias numa mistura alegríssima de mim e você com alguns dos seus trovões e muito do meu silêncio, tentando decidir se o que sinto é um amor tão imenso e portanto calado ou se é uma passagem obrigatória em direção ao fim do que já senti um dia. Por fim não penso, me entrego ao balanço dessa imitação de leveza que ensaiamos todos os dias pra não padecermos da falta de um enorme pedaço de nós em cada um. Isso não é pecado muito menos crime, a essa altura dos fatos a falta já um prêmio. Não escrevo amargurada, angustiada sim, cansada também, de gritar o que não chega em mim, de pedir o que não me dão. Não te culpo, só não te reconheço e assim tornas uma nova pessoa com quem preciso aprender a conviver e amar, me perco em mim e nesse redemoinho tão grande que me provoca o frio na barriga de beirada de abismo. O que faço de você em mim? Te mastigo, te cheiro antes pra ter certeza da sua presença e torço pra não engasgar outra vez. Me encolho de medo dos meus erros - talvez esse seja o maior deles - e pareço fraca perto de você e de todo seu universo sempre refrescante, novo e moderno que me faz sentir a pior e a mais equivocada das mortais. De alguma forma encaixo em você, não acredito na total estupidez da vida te enfiando no meu caminho de novo. Cansei de pensar-nos e de afastar os seus fantasmas de mim, escolhi que a vida me levasse, estou soltando o corpo (por hoje) ...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

sobre Paris e conformidade.

Dogs corta meu coração numa felicidade conformada e certa, numa noite em que pela primeira vez meu coração igualou-se ao seu ao reler as cartas que tanto relutei por anos. Sei da sua dor hoje e me martirizei na medida pensando 'quem não tem amor, tem estradas' e foi isso que você fez, a estrada. Me vi tanto em você e me odiei por ter provocado a dor que hoje sei o tamanho, pensei muito se preciso me desculpar, senti do fundo da minha alma que não, talvez você espere esse pedido há muito, mas só senti que não. Quis tanto ligar e perguntar sobre tanta coisa, sobre as teorias formuladas e divididas em escritas deformadas, discutir filosoficamente sobre as frases finais, os inúmeros p.s's, mas me lembrei que isso já foi combinado previamente e me conformei outra vez olhando a estrada passar que apesar de tanto coração e esperança raladas tão forçosamente, nunca deixei de ver a vida do jeito que te contei.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

o amor que flutua.

Tenho que parar de me adoecer de você, minhas pequenas viroses diárias quando o pensamento estaciona em você me matam aos poucos. Meus planos de vida, minhas fantasias, desejos, meu tesão e minha felicidade eram melhores com você. Não me envergonho de dizer isso, eu era mais feliz mesmo, fazer o que? Não busco mais essa mesma felicidade porque o que fazia dela tão grande já não existe mais e já me consolei dessa perda. Gosto da luz que sua presença acende em mim, ultimamente tenho precisado muito dela mas me atento pro exagero, relevar o exagero fazia parte daquilo que se perdeu, os tempos são outros. Não me esqueci como cuidar de você, nunca deixei de o fazer mesmo dentro de mim, também não esqueci como me esquivar das suas tempestades, aquelas com o céu mais preto que já vi e que não deixam de me apavorar. Minhas palavras parecem tristes a um primeiro olhar, mas não o são, são mastigadas a cada segundo do dia, pensar num amor que flutua é muito complexo, preciso de muitas letras pra isso, não sei o que fazer de mim, de você e de nós. Entre tanta coisa esquecida pela força ou pelo tempo resolvi me lembrar do destino e de como eu acreditava nas suas funcionalidades.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

sim.

Talvez me precipito um pouco escrevendo sobre esse encontro que ainda não aconteceu, mas sinto pela primeira vez que somos iguais, nem vítimas nem vilões, nem choro que peça consolo, nem grito que peça ouvido. Iguais, humanos, como deveríamos ter sido sempre, como fomos um dia. A mala no canto da sala pressagia uma nova pessoa, as unhas negras de hoje pressagiam a despedida dessa velha pessoa que nunca deixou de ser doce, só esqueceu como se faz. Me perdi várias vezes nas mãos suadas e na voz trêmula tentando te dizer 'sim', talvez você tenha se perdido nas mesmas coisas e desejado tanto quanto eu essas três letras. Desaprendi a ir com você, você desaprendeu a me levar, na noite em que deveria ter tons de despedida eu só desejo que reaprendamos a nos levar mutuamente numa doçura extrema, como deveria ter sido sempre, como fomos um dia.

terça-feira, 28 de junho de 2011

sobre balões vazios.

hoje eu sou intraduzível como qualquer coisa que não sei explicar por desconhecimento completo. meu coração já não conversa com o resto do corpo, já entro num processo de esvaziamento completo por indução, sem pedir licença nem agradecer. Cazuza disse que seus dias são de par em par, os meus não chegam aos pares, as vezes só alcançam as horas. me fartei de escrever sobre escritas reduzidas, duras e coisas repetidas. talvez faça um novo blog, jogue metade desse coração fora, mantenha um ou dois brilhos falsos nos olhos, pinte o cabelo, aprenda a arrumar um armário, a ter algumas opiniões, talvez tenha algumas ideologias, talvez eu tente agradar menos os outros, talvez eu aprenda a usar menos talvez'es e comece a pensar em mim. consigo perceber que a vida não dura muito e que só tenho duas saídas pra ela, ou vivo heroicamente, não deixando que se esqueçam de mim, ou deixo a vida se esquecer de mim. escolho aos 21 que a vida se esqueça de mim, não tenho mais saco pra me adaptar a ela, e nem ela pra se adaptar a mim. me esvazio, lenta e dolorida, outra chance de construir o que nunca consegui entender.

sábado, 18 de junho de 2011

aos vinte.

Aos 20 aprendi que amar não tem remédio, que a ressaca nunca acaba, que amigos são vida, que falta de amor é angústia, que te amar agora é de um gelado completamente sustentável e leve, que amar você, de agora, é quente e muito mais longe do que penso, que mudar é inevitável, que apesar de tudo alguma coisa me empurra pra vida. Aos 20 o amor me embala numa rede ansiosa e um tanto maléfica me ensinando a ter paciência, em embalos rápidos que me derrubam de tempos em tempos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

altas.

Minha vida virou um drama barato, história de meia luz e café frio. Livro rasgado, coração seco, solidão latente e por escolha induzida, pés gelados, novela mexicana, rodopios diários num círculo de paredes desesperantemente iguais. Já transcendi o cansaço e a misantropia, já nem sei mais o que sentir ou em que acreditar, de um dia para o outro meus valores se diluíram como açúcar na água, minhas desconstruções diárias são como socos no estômago, meus cansaços de final do dia me consome as lágrimas. Me situo sempre, pra não esquecer o propósito da minha presença - apesar de as vezes inventá-lo pra não sair correndo. Não sei se cansei, não sei se devo chorar, enfiar o pé na vida, cultivar alguma coisa ou matar o resto. Não quero mais nada, parei de brincar, pedi altas e espero a coragem pra pelo menos correr até chegar na puta que pariu sem olhar pra trás.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

o limite do suportável.

O desespero da solidão chegou ao limite do suportável. Cansei de expectativas furadas, dias vazios, amores mal curados, vidas mal vividas. Cansei de mim. Mergulhei numa solidão forçada, maldita, doída no fundo, daquelas que esperam qualquer coisa brilhar no fim do dia. Não brilha, não acontece. Acontece pelo contrário em mim, uma falta de esperança tão ardente que só acredito em um futuro grandioso que afinal, pode ser só mais uma das esperanças vagas. Cansei delas e de mim, de esperar a salvação dos meus dias e do meu desespero tão agudo. Rio por não saber mais reclamar, por não ter o que reclamar. Sei que não existe a salvação que espero, mas é só o que posso esperar num momento em que meu corpo esvazia-se por si só, sem meu consentimento num processo de limpeza profunda, até das alegrias. Drummond se faz sábio todos os dias no meu cérebro, de volta pra casa se perguntando o que fazer de uma vida que não se tem, se inventa. Me invento por sobrevivência, faço promessas ao inconsciente, apostas aos olhos, a boca já não considero, ao sexo nem me atrevo. Minha última chance é ir. Pra voltar. Talvez mais limpa, talvez mais suave, um tanto mais diferente, pra que eu possa viver mais alguns anos de desespero disfarçado de vida vivível [que me desculpe Guimarães Rosa]. Não desisto por algum motivo que não sei explicar, mas que me me empurra pra frente num fôlego curto de velho cansado.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

lucidez enlouquece.

Me pergunto se sinto ainda algum tipo de dor e me respondo que não. Me afirmo cansaços extremos, sonos de menos, rotina de mais, a que tanto odeio e a que de tanto dependo. Quartas se tornaram sábado, meio dia já não era o meio do dia, perdi o medo do meu escuro, perdi o medo de mortes diárias. Minhas atividades se resumem a enfeitar o hábito, esperar a mágica, enfrentar todas as resurreições e beber qualquer tipo de beleza em meio ao caos que tornei minha vida. Mato o tempo em horas iguais e tento acreditar que existe o deus das horas certas morando na minha orelha esquerda e sapateando a cada hora igual.

terça-feira, 31 de maio de 2011

o que não existe, falta.

Hoje descobri que sua ausência não teve tempo de doer, mas teve tempo de faltar. Me irrito pela sua meninice e o modo como lidou comigo e com todos meus sonhos, você poderia ter sido parte deles, talvez tenha sido muito covarde pra isso. Não aceito covardia com sentimentos e não sei como alguém consegue viver bem sendo covarde com os dos outros e em piores casos, com seus próprios. Minha raiva de hoje seja talvez o nó que ficou preso naquela noite em que minha frustração e sua estupidez me deram um tapa na cara. Sinto falta do que nunca tive. Escolho não voltar pra onde nunca cheguei.

sábado, 28 de maio de 2011

aquele em que olhei no espelho.

Me preparo pra viver sozinha cercada de tanta gente, pensando em como deve ser possível sair da multidão silenciosa sem que ninguém te veja. Saio me observando, cada pedaço de mim, resgatando as partes que ficaram encostadas no lixo até criar coragem para cuidá-las outra vez. Não me amo, me reconheço. Em suas devidas proporções de tempo, não vejo mais seu rosto como primeira imagem, vejo o meu e penso como o deixei envelhecer assim, eu era tão bonita. Continua bonita, porém adulta, de uma 'adultez' fria como nunca gostei, como nunca desejei. Queria ser livre de toda esse ranço adulto de tristeza, mas me esqueci disso nos mesmos tempos em que esqueci de mim. Não quero me perder mais, não posso, é a minha última chance de conduzir minha vida a delicadeza que sempre desejei. Depois de uma noite bem dormida no limite da minha estranheza, treino o viver só, numa manhã tão azul e passarinhada como eu costumava ser. Aprendi a esperar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

a última perda.

mais uma vez minha única fuga a mais uma perda é esse pedaço de papel que não existe, ironicamente feito pra ninguém ler. amor é minha fuga, quando o tenho, não escrevo, não sei. me recriminem. ainda não sei escrever felicidade e abundância. talvez um dia aprenda. versos soltos, soltos como eu quando feliz. versos pontuados, duros, secos, com minúsculas renitentes em seus espaços indevidos, eu, triste assim.
perdi. mais um pedaço de mim.
um pedaço que não via há tanto, que me sorriu todos os dias e entristeceu-se nos últimos. eu sei, já entendi, a mágica não mora lá, mas seria capaz de derrubar as casas ao lado e fazer um jardim, uma porta no lugar da janela, dois corações novos, o mesmo cheiro de dois e morar lá quietinha pro resto da vida, esse foi meu primeiro desejo sincero. ao lembrar de tudo, sinto tanto, tão latente, tão pulsante e vivo que não consigo escrever, pela segunda vez. a minha própria ironia de só conseguir escrever o que é triste.
pegue aquilo que não sabemos o nome e que se misturou aos nossos sorrisos e leve com você. não esqueça nada. não me esqueça lá. prometa-me calado (sabes que ouço).
aí então voe daí. eu vôo daqui. sempre nos (re) encontramos no céu não é mesmo?

domingo, 22 de maio de 2011

sobre sapos e nós.

O bicho que me come o estômago é o mesmo que come meu medo, mora há tempos aqui dentro, em períodos de miséria e êxtase. O nó de hoje vem afrouxando conforme o dia passa, o tempo que afrouxa o nó é o mesmo que me ensina como viver sozinha e a não engolir todos os sapos que a vida me enfia goela abaixo. Sobrevivi a mim, entupida de sangue, de sapo e de dor. Sobrevivi a você, sem você. Sobrevivo a um mundo que não vejo tanto sentido, que não é tão azul como eu queria que fosse e nem tão divertido assim. Os meus fantasmas são amigos dos seus, nos infernizam em conformidade, vivi muito tempo com eles. Você não morre em mim porque não é hora, eu te deixo ir de mim porque é hora, a miséria é muito pouco pra quem já teve tanto tudo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

trinta segundos de deserto comum.

Depois do desinteresse forçado às nossas vidas distantes, te escrevo com um interesse sincero de vidas comuns. Cuido de você dentro de mim, delicado como se foi, como deverá sempre ser. Um acordo comum selado pelo silêncio entendido pelas duas partes. Te cuido com tanto cuidado como daquelas flores de maio, não te deixo arranhar apesar de sempre se repetir como tudo o que é arranhado, não te deixo bater em quinas apesar de ter perdido tantas minhas por aí, não te deixo morrer apesar de ter morrido tantas vezes e tão dolorosamente. Espero tudo, de tantas vezes, de tanto tudo, hipocrisia dizer que não. Mas o meu pior medo, o de não estremecer diante de você, me vi curada, talvez por te amar tanto de todas as formas que consegui. Tive tanto medo de te olhar dentro dos olhos, precisei de trinta segundos pra contar a você a minha vida, o resto era dispensável, você tinha entendido. Atrás da rebeldia de vida, de valores, relações e prudências me vi mais uma vez numa ânsia única e simples, beber todo amor que houver nessa vida. Tecnicamente precisaria de você, concretamente te tenho, em mim.
Quieto.
Como nossos desertos comuns.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

eu, sem mim.

admitir falta é declarar amor. o átimo de sanidade oculta em tanto cansaço e vida ralada me fizeram mais dura. declarar amor era princípio de vida, opção consequente dela, a misantropia rasga todas elas. o impulso do falar se abafa pela consequencia do sofrer. uma parte de mim foi morta, consentida e consciente. me mato e me morro por todos os amores que possam vir. não me arrependo, opção de vida.
amo, diferente de tudo.
alheio a mim.

domingo, 15 de maio de 2011

Sobre desconstruções, reconstruções e Floyd.

Ouvir Floyd me cura do meu medo de você, de te sentir outra vez ou de querer levantar qualquer bandeira azul. Meus medos me surpreendem, me vivo toda em todas minhas desconstruções sublimes e improváveis de medo. Tudo o que eu achei que poderia ter sido, não foi, me fez ver a vida mais dura, talvez? ou mais bonita e incrível por outro ponto de vista. Meu amor não foi tudo o que eu quis, minhas expectativas não foram aquilo que pensei, meu medo de Floyd esperou dores dilacerantes e no entanto, só me fazem mais Isadora, de um jeito que nunca poderia deixar de ter sido. Mas deixei, para desconstruir e reconstruir logo depois. Os cinzas posteriores na verdade são só mais uma rasteira do meu medo, os cinzas não existem. Nem os dias de cão. Só os de Floyd e muros caindo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Amor e ponto.

Hoje o texto não é meu, mas no fundo não deixa de ser.



Uma vez

Morrer uma vez.
Deixar que a dor te mate para depois nascer de novo.

Taí uma coisa importante na vida.

Cris Guerra

sábado, 7 de maio de 2011

a explicação dos cinzas posteriores.

publicar algo tanto quanto mais cinza é um jeito de fazer com que me sinta menos cansativa.

minúsculo.

Em que nada é esperado, desejado, assumido, a carta de criatividade ascende como qualquer outra luz tão amarela quanto a minha alma encharcada de alguma coisa não-tão-podre-mais, misturada a algo que não quero entender, no olho do furacão de encantamento numa vida que sempre quis ter ou materializada em alguma perspectiva de felicidade muda em qualquer canto de mim. tão desconexas quanto um ponto final num pensamento contínuo de irracionalidade de mim. Os pontos finais são tão opressores quanto qualquer coisa mais estúpida desse mundo que faço parte por conveniência ou poesia. os além-ponto se mandam minúsculos, não entendem a racionalidade do maiúsculo e todo seu poder nunca provado. afirmar-se minúsculo é forma de sobrevivência, a você mesmo.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Desses que eu preciso escrever.

Hoje eu precisava ver o mar, tão grande quanto qualquer coisa que mora hoje em mim. A tristeza e a felicidade se misturam num ritmo que não consigo acompanhar, talvez nem queira. Soltei os braços, as pernas, fechei os olhos e deixei que o vento me levasse, as vezes me sopra pro pior dos lugares, as vezes pro melhor deles, outras pro melhor dos meus sonhos, outras pro meu vazio agudo e acima de tudo, tristíssimo. Talvez seja isso que me falte, que sempre me faltou, deixar com que a vida vá sem que eu tenha que meter. O sopro da velha vida azul e confortável me sopra com ares tão tristes como nunca pensei que poderiam ser, a mesma sintonia, o velho machucado. Hoje me entendo com a dor do tamanho do mar, amanhã com o mar, do tamanho de mim.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aquele depois dos 21.

Quis todas elas amarradas por um laço por tantos anos, por todos dias, por cada sorriso, pelo amor inteiro. Quis todas elas talvez para que eu pudesse olhá-las e tentar me igualar, pela delicadeza que sempre invejei, pela pequena, mas sublime duração de seus dias. Pelo colorido, pelo abre-fecha de pétalas, pelo alimento, pela sutileza do presente. Vieram. Lindas, porém tarde. A tristeza por terem chegado tão tarde se igualou ao quanto eram bonitas, a dor de olhar se parece com a dor de reler meus antigos rascunhos, o lugar que fica é equivalente àquele que é ocupado no meu coração. Não as querer é pecado, não as sentir é consequência e direito de quem ganha. Ainda assim não me pediu pra ficar. Agora o vento é meu.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Aquele do presente de aniversário.

A um dia dos 21 a aflição me pegou no caminho do corredor. Não é medo de ficar velha - nenhuma neura pré-aniversário - talvez medo de ficar sozinha. A insegurança sempre foi o sentimento mais perto de mim durante toda a minha vida, ainda tô aprendendo como é esse negócio de dizer não e manter meus sim's. Insegurança talvez por duvidar que eu consiga me sentir realmente amada outra vez, o amor desacostumou minha rotina. Preciso reaprender a viver sozinha, preciso desaprender a esperar amor, reaprender a só sentir. Me convenço todos os dias que a vida é maior do que o pedaço que falta em mim, me obrigo a sentir qualquer brisa de vida que me assopra, reproduzo a voz de Caio milhares de vezes na minha cabeça "deixa, deixa passar..', espero aquele avião como quem espera liberdade. Que os 21 não altere minha capacidade de convencer a mim mesma, é o meu presente de aniversário, de mim pra mim.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Aquele em que eu rezei.

"E eu rezei. Sabe? Tipo, pra Deus." Pensar em Julia Roberts num dos piores momentos da minha vida, não foi cômico por ser tão trágico. E eu também rezei, sabe, pra Deus. Uma relação difícil durante toda a vida, um assunto não muito comentado, uma fé rala, a crença diluída nas rodas de conversa. Achei que Deus poderia entender minha angústia e incapacidade diante daquela dor tão latente. Não sabia como começar, como pedir, como acreditar. Mas pedi com o resto da força que me sobrou, em voz alta, arrastada, envergonhada pela ausência de tantos anos. Pensei tanto naquela meia luz de Formiga, quinta-feira, meu coração costumava ficar em paz. Tentei a paz de novo, ajoelhada, diante de uma janela com grades tão longe do céu, sucumbida pela fragilidade do ser humano, e chorei, como se não pudesse fazer mais nada.

Aquele da perda do resto.

Hoje, sem querer, numa violência impensada e confusa, apaguei meus rascunhos do celular. Em meio a nomes científicos de borboletas, citações de Jabor, Clarice e lapsos de auto-tortura. "Escreva sobre isso" era o que eu conseguia ouvir, era só o que queria fazer. Perdi. Muita coisa. Meu amor,pra sempre. Meu endereço, por 3 dias na semana. Meu nome, pra mim. Minha delicadeza, pro mundo. O que é perder rascunhos de uma vida embaraçada num telefone? Preferi perder um braço naquele momento de tudo vazio, eu, o maldito telefone e tudo que conseguia enxergar, olhei pro prédio em que fui feliz durante tantos meses, pra praça que me tem amor e ódio, pra avenida cinza, pra amiga consolada, pra mim conformada, e conformei. Rascunhos me doem como nunca imaginei, me fazem ver alguém que não conheci, porque era incompleto, frases únicas me assustam, as aspas de Clarice - sempre a minha direita e à minha esquerda - me fazem mais humana. Aprendi que as coisas passam, aceitei que passam, vi que passam, tentei pegar mais uma vez e não pude, não cabiam no meu colo. Só carrego o que posso levar. A mesma lição. O mesmo escorrer de mãos, de vida, mas o sopro renitente de vida ainda me assopra. Finjo que entendo qual o motivo da insistência de vida frágil sussurrada no meu ouvido.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Aquele pequeno.

Em todas as minhas leituras de hoje, achei Caio. Com sua tristeza lá no fundo, quietinha, esperando a mão de felicidade se estender pra olhar sereno pra ela e levantar como pluma do canto que já se despediu sem mágoas. Pensei que me afastar dos meus dias Clarice seria mais dolorido, mas cair em dias cada vez mais Caio me salvam da rotina dos meus pensamentos, me aguento com os comigos de mim. Dias mais serenos, menos doloridos, menos assustadores, com mais inspirações. E expirações.

domingo, 10 de abril de 2011

Aquele que eu precisava escrever.

Fechar os olhos e me sentir tão grande como nunca poderia imaginar. A minha dor se foi, a minha paixão se desfez no caminho que você mesmo percorreu, meus planos de vida colorida não se dissiparam, só não lhe cabem mais, minhas noites não te encaixam, minha coxas não te envolvem, minha respiração não te ofega, meu sono não te acalma, minhas palavras não te dizem, meu abraço não te afaga, minhas mãos não te envolvem, meu grito não te comove. Eu não grito mais, hoje só susssurro o resto daquela dor surrada no fundo do coração. Não te envolvo, numa vida que não existe, que você não vê, que não vemos. Não existe. Somos nós, uma lembrança de amor dilacerante e uma esperança vazia. Vivamos nossas vidas, azuis como devem ser.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Aquele sobre os rascunhos, Chico e eu.

Bom, pela primeira vez resolvi ler meus rascunhos. Sempre tive problemas com rascunhos, reflexões e dores velhas me fazem ler alguém de quem eu não gostei, por isso me escrevi. Ignorei meus amigos, minha família, minha analista e minha consciência no meio desses rascunhos angustiados em que as palavras não se completam, as pessoas não existem, é uma iminência de desespero, de tocar fogo nas roupas ou de tomar um porre, como diria Vani. Esqueci do que fazia minha vida bonita, perdi um pedaço de mim pelo caminho e não posso voltar pra buscar, e agora? Posso ter outro pedaço bonito? Nos piores momentos daqueles de olhos de vidro e meias trocadas, no domingo segurando no portão e me perguntando 'porque a faculdade tá fechada hoje?', o que me mantinha respirando era o sopro de reinvenção que por algum motivo não saiu voando de mim. Um copo vazio está cheio de ar, aprendi com Chico. Não quero mais ler meus rascunhos, a 'caixa de sonhos' física está no fundo do armário daquela casa empoeirada que já não é mais minha, o que está lá dentro já foi meu, aprendi a levar só o que eu posso carregar, só posso dar se me transborda. Aprendi comigo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Sobre vinhos e havaianas

Minha responsabilidade sempre confortou minha culpa. Ir pra não ter que pensar como poderia ter sido, estudar pra não pensar na possibilidade de prova especial, sentir pra não me arrepender de desperdiçar. Ser responsável é um jeito de não me culpar pelas desgraças do dia a dia, pelos erros que as vezes destroem a rotina e a minha cabeça. Cansei. Quero o que me faz bem, o que não me leva a culpa, ao desconforto, ao sentimento de ilegalidade. Quero as minhas havaianas azul-piscina, meu short rasgado, minha esperança de volta, minha paz no lugar de onde ela não deveria ter saído, meus sábados de manhã, meu prazer em amar o que faço, meus vinhos no bico e as gargalhadas dos meus amigos. Sinto que de tão leve, minha leveza voou de mim, deixando minha delicadeza como um tapa de luva, para que eu não me esquecesse de quem sempre fui. Saro do que mais me doeu, hoje elas entendem o quanto dói e não me apontam, nem dizem que vai passar, hoje eu digo que vai passar, depois de dias esperando a hora de dormir, eu espero a hora de acordar. A leveza toca meu jardim aos poucos.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sobre céus e covardia.

Covardia foi a palavra que me assustou essa tarde. Será que estou sendo covarde? Por não falar o que me incomoda, por não escolher o que me agrada, por não conseguir dizer 'não'? Sempre odiei essa palavra, sempre odiei covardes, talvez porque era cheia de mim e escolhia sem pensar muito, as outras opções simplesmente não existiam. Sinto que às vezes derreto, em mim, sinto que escorro até terminar numa letargia insuportável. Não tenho mais voz, meus olhares são lentos, minhas mãos infantis, minhas pernas escapam, o coração apertado e descompassado e uma cabeça com vontade própria, mandando em mim. Muitas vezes acho que o que chamo de destruição foi apenas uma desconstrução, aprendo a ler todos os dias, descubro como é gostar de tomar banho, me surpreendo com meus passos, mexo os braços e entendo que eles servem pro equilíbrio. Já sei como é não saber que existo, agora estou aprendendo a respirar, e no meio disso? Deve ter sido sonho. Não precisava acordar, vida é pra viver sem medo. Medo não é humano, na verdade é humano demais pra quem nunca quis descer do céu.